Em tempo de celebrar a Vida fui surpreendido pela morte… Hoje, pela manhã, quando estava para sair de casa para ir celebrar duas missas à paróquia dos Pousos, a minha mãe veio dizer-me que a minha avó tinha morrido naquele momento.
Hoje está por cá aquele ambiente pesado… tirei um bocadito para vir ver o correio e escrever qualquer coisa por aqui… É estranho o que se sente nestas alturas… não que a certeza da fé seja abalada, não que a Vida que celebrámos no Natal perca sentido… eu sei, eu creio, que é essa Vida que preenche de sentido estes momentos… Mas é sempre aquela «saudade», não sei se de quem partiu, se de mim que fiquei, de me saber também nesta caminho de morte, na vida, para a Vida.
padreZé
Ainda não sei muito bem o que vai ser... talvez consiga meter aqui algo do que vou vendo, sentindo, pensando e aprendendo... para quem me quiser acompanhar por esta minha passagem por Roma (José Henrique Pedrosa | Pontificio Collegio Portoghese, Via Nicolo V, 3, 00165 Roma | 0039 0639090209)
domingo, dezembro 28
quinta-feira, dezembro 25
Já há uns dias que não deixo por aqui nada… têm sido uns dias muito «ocupados» no reencontro da família e dos amigos. Além disso, sempre tive a oportunidade de voltar ajudar nas celebrações de uma paróquia (já tinha saudades disso também…).
Hoje, como é dia de Natal, fiquei mais por casa e sempre deu para escrever estas linhas. Fica apenas o registo de um dia grande e cheio, pela pequenez e insignificância de um Deus que se quis fazer assim… menino. Ainda tanto para aprender com a sua humanidade… Há pouco (cheguei de lá agora…) estive a passear à beira mar e a pensar (e talvez a rezar) um pouco em tudo isto…
Mas fico-me por aqui que já está ali toda a gente para jantar: fica apenas o voto de boas festas para quem passar por aqui… como dizia nas mensagens que enviei: o dia está a terminar… mas a Vida que celebramos, essa quer continuar.
sábado, dezembro 20
Só para dizer que já cheguei, que é bom voltar a casa, aos amigos, aos espaços conhecidos… De facto, o homem é um animal de hábitos… e são estes hábitos, que criamos, que nos recriam a nós… e quando voltamos a eles há como que um reencontrarmo-nos a nós próprios…
quinta-feira, dezembro 18
Fui comer uma piza, das verdadeiras, com queijo! Para fazer as despedidas… Amanhã, se Deus quiser, lá estarei pela cidade do Lis ao final da noite para saborear de novo a presença dos amigos que aparecerem pelo GL! Deixo a mochila para amanhã à tarde! Fui buscar um filme para ver esta noite até me chegar o sono…
Nos próximos tempos não sei como será a minha presença neste espaço… logo se verá! Mas prometo que continuarei «a sério» em princípios de Janeiro!
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Ontem à noite acabei de resumir o tal livro sobre as relações entre pais e filhos na Grécia antiga (STORONI PIAZZ, Anna Marina, Padri e figli nella Grecia antica, Roma (Armando) 1991). A questão sobre a qual a autora nos quer ajudara a reflectir é a do porquê do surgir da questão pedagógica (e do aparecimento das escolas) naquela altura (séc. V a.C.) e naquele local (Grécia). E o porquê da violência que, nessa altura, era exercida sobre as crianças.
O que mais me impressionou ao longo de toda a leitura foi precisamente esta questão da violência. Em primeiro lugar a questão da exposição dos recém-nascidos… As crianças não eram propriamente consideradas pessoas (como acontecia também com as mulheres e os escravos…), e a sua vida estava na mão do pai. Ao décimo dia de nascimento fazia-se um rito de apresentação da criança ao pai. Este era um momento decisivo. Se o pai a não aceitasse (e tinha toda a liberdade de o fazer) a criança era simplesmente exposta: era posta num recipiente fora de casa, à espera do que lhe acontecesse… em alguns casos podia ter a «sorte» de ser recolhida por alguém que quisesse fazer dela, depois, um escravo, ou por algum casal que não tivesse filhos… Mas a «sorte» da maioria era a morte. E isto porque o pai tinha medo daquilo que o filho poderia vir a representar para si. Uma questão de egoísmo, podíamos dizer…
No caso de passar no «teste» do décimo dia, a infância que a aguardava também não era lá muito «doce»… Já não me refiro ao extremo daquilo que era a sua vida em Esparta, onde aos 7 anos era definitivamente separada da família para ter uma «educação» baseada na força e na sua preparação física, e onde não se dava importância ao facto de algumas morrerem pelo meio: se não têm força para resistir, era sinal que também não «prestavam» para serem cidadãos daquela cidade! Nas outras cidades (como a «grande» Atenas…) e falando apenas dos rapazes, eram consideradas apenas como um objecto de que os pais dispunham como bem entendessem e que eram dadas como objecto de prazer sexual àquele que seria o seu pedagogo… Nos tratados de medicina, por exemplo, que foram aparecendo por lá nessa altura (recorde-se o nome de Ipocrates) as doenças na infância não eram sequer referidas: os médicos não lhe prestavam qualquer atenção, pois em caso de doença eram deixadas à «sorte» da natureza que assim ia fazendo a sua selecção natural.
Às vezes, ao longo da leitura, dei comigo a pensar em como tal seria possível tal desumanidade. Será possível não ver numa criança uma pessoa, numa menina a mesma dignidade de um rapaz, num pequeno escravo a mesma humanidade de um pequeno livre?
Mas fez-me pensar numa outra coisa: com que «horror» pode ser descrita a nossa humanidade actual quando, em vez de «expor» o recém-nascido, o impede de nascer? E quais as razões que se apresentam actualmente para querer fazer do aborto um comportamento lícito perante a lei? O direito ao MEU corpo, a decidir se QUERO ou não este filho? Normalmente apresentam-se os «casos extremos» ou de «excepção» para querer aplicar a lei a todos aqueles «casos» em que não restam senão os mesmos princípio de egoísmo da Grécia antiga…
Como somos incapazes de ver aquela pessoa, com a mesma dignidade e humanidade só porque ainda não a vemos «cá fora»? Nestes séculos que nos separam da Grécia antiga já avançamos alguma coisa em questões de humanidade e respeito pela vida das crianças e da pessoa em geral… mas ainda temos muito para crescer…
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Recebi há pouco uma mensagem a dizer que este vídeo fazia lembrar a minha participação musical na festa de Natal! Está lindo! :-) Para verem ao ponto a que fazem chegar uma pessoa...
Entretanto, como estamos numa destas brincadeiras, para quem já apanhou uma bebedeira (para se recordar da dificuldade que foi entrar em casa), e para quem (ainda) não apanhou (para se preparar psicologicamente para o que poderá acontecer e saber a que ponto parar… ou simplesmente para saber o que passa nessas alturas e poder ser solidário...) aqui vai um pequeno teste! Há preémios para os vencedores! Eu, por exemplo, só não superei a dificuldade no último nível (e não tenho ido muito aos treinos…). Basta carregar aqui!
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Depois da ceia e festa de Natal (que até correu bastante bem) cá me vim enfiar até estas horas de volta dos pais e dos filhos na Grécia antiga. Finalmente acabei o trabalho! Agora que falta tão pouco para sair é que me vem este sensação de falta de tempo: tanta coisa para ler, para organizar, para escrever… e só tenho a tarde e noite de amanhã! Acho que vou levar um livro a passear até Portugal, nem que seja só para descargo de consciência… Vida de estudante: já me tinha esquecido de como era…
quarta-feira, dezembro 17
Convite a uma visita virtual a uma lagoa que fica pertinho da minha terrina, Monte Redondo, a Lagoa da Ervideira!
(para quem não saiba, é só carregar no nome)
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Anda por aqui, pelo Pontificio Collegio Portoghese, um ambiente interessante… Faltam poucos dias para começarem as férias de Natal. Os portugueses andam (quase todos) a contar os dias para se meterem no avião e voltarem até Portugal. Há por aí mais uns quantos (europeus) que vão até casa nesta altura, mas também há quem fique o tempo todo: os africanos, os timorenses, os coreanos. Estes chegam mesmo a passar aqui os 5 ou 6 anos sem voltarem à Coreia… E andam um ano inteiro só para aprender a falar o italiano que, como diz alguém por cá, é uma língua que só interessa quando se chega a Fuimincino e não serve para mais nada quando se parte de lá.
Além dos «vestígios» de Natal que se espalham pela capela e refeitório (e do Pai Natal que me apareceu aqui no quarto), há este «ambiente» de «partida» no ar, de partida e de chegada… Dois Pedros vão mesmo de vez: um para Lisboa outro para o Porto. Se tudo correr bem daqui por dois anos e meio estarei nas mesmas circunstâncias…
Amanhã é a ceia de Natal (o Pai Natal que aqui apareceu era mesmo um dos padres que vai ser o «apresentador» do momento de convívio…), e lá vou ter que fazer qualquer coisa… Imaginem que me cravaram (a mim!!!) para cantar e (claro, tinha que ser, desde que se soube que era escuteiro…) para fazer um momento mais cómico! A ver o que sai…
segunda-feira, dezembro 15
Voltei de novo a São Pedro. Estou a 10 minutos a pé desta basílica, passo muitas vezes na praça e olho para a fachada, mas poucas vezes entro. Hoje voltei não como turista para a apreciar. Passei à frente da Pieta quase sem reparar nela. Estava pouca gente por lá ao final da tarde. Entrei para «saborear», neste templo tão grande, uma outra grandeza: a do perdão de Deus. «Soube-me» bem!
domingo, dezembro 14
Naquele tempo, as multidões perguntavam a João Baptista: "Que devemos fazer?"
Começava assim o evangelho deste terceiro Domingo do Advento… Acho que me fico por aqui, hoje não preciso de me perguntar mais nada…
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Acabei de comer uma piza sem queijo! Nunca pensei muito no assunto, mas, de facto, quando se fala em piza penso sempre em três ingredientes indispensáveis: a base de massa, o tomate e o queijo. Já tinha visto a «linha branca» das pizas, as que não têm tomate. As sem queijo não se encontram a ementa, é preciso um pedido especial. Como fui comemorar a vitória do Benfica (qualquer razão serve…) com o Caldas, um dos meus «companheiros de labuta» cá da casa, e ele não gosta de queijo, comemos uma piza sem queijo a meias. E gostei! Ah, e devo dizer que não há pizas como as «verdadeiras», as de cá!
Às vezes, por tão habituados que estamos às ideias que trazemos (como a das pizas…) não é fácil perceber que as coisas se podem fazer, viver, pensar, de outra maneira… Penso que esta pode ser uma das maiores «conquistas» desta minha passagem por aqui. Para além de tudo o que terei oportunidade de ouvir e de ler, para além de todas as matérias e trabalhos, está a realidade de uma turma como a minha (aquela «mais regular», porque vai variando… mas falo do 1º ano de Pastoral Juvenil e Catequética): somos cerca de 60, da Europa, Ásia, Áfica e América, com maneiras de ser, de estar, de pensar, de viver as coisas muito diversas. Esta é uma grande oportunidade de abertura de horizontes…
Temos, no entanto, algo, ou melhor, Alguém que a todos nos une! E já passaram 3 semanas do advento… como o tempo passa! Tenho de aproveitar este restinho para me «preparar» um bocadito melhor para o seu Natal…
sábado, dezembro 13
Uma verdadeira vitória informática! É verdade, fui capaz de meter aqui uma «coisa» para poderem deixar os vossos comentários, se quiserem, claro! Depois de ter pedido ao Nuno e ao Gonçalo, e de eles não terem conseguido, fui eu mesmo a tratar do assunto, com o belíssimo resultado que podem ver! Entretanto, para quem conhece, o P.A. também criou um blog.
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Depois de uma frequência fica-se sempre com esta vontade de não fazer nada… esta tarde foi para esquecer: compras, jantar fora (pizza veramente italiana!!!), chega-se tarde… agora vai ser passar pelo mail, e ir dormir… À tarde ainda celebrei com o cardeal Ratzininger, uma celebração para jovens, numa igreja perto de São Pedro, já na perspectiva das próximas Jornadas Mundiais da Juventude, mas se ele é um bom escritor, já a falar… (bem, eu também estava cansado… não admira que me tenha dado o sono a ouvir um alemão a falar italiano num tom um bocado monocórdico...). No final tive a oportunidade de o cumprimentar e de falar um bocadinho com ele.
Tenho ainda uma data de coisas para fazer antes das férias… Espero conseguir aproveitar melhor o tempo amanhã, mas a «coisa» não promete: de manhã é para dormir um pouco mais (claro!!!!). À tarde vou jogar um bocadito de futebol para desenferrujar as pernas, e à noite já combinei ir até à «baixa» beber uma cerveja… enfim… também é Sábado!
sexta-feira, dezembro 12
Pedido de licença
Um texto que apareceu por aqui, numa das aulas... tentei traduzi-lo o melhor que consegui. Deixo-o porque gostei dele e pode servir a mais alguém. É de um tal Ignacio Anzoátegui
Esta noite tenho necessidade de estar comigo,
visitar-me, falar-me um pouco, ocupar-me de mim.
Esta noite vou pedir-te que me deixes só.
Quero ir dentro de mim, buscar-me um pouco,
conhecer-me algo, reencontrar-me.
Quando era criança uma noite sonhei
que no meu coração havia um sol.
Hoje queria chegar às portas
do meu próprio coração, pedir licença,
olhar, e quem sabe desvelar um longínquo sonho;
e saber o que existe, o que conserva, o que permanece
daquela criança, daquele sol no meu coração.
Peço-te esta licença para fechar os olhos
e que não me interrompas com o teu amor.
Com os olhos fechados, tudo é mais claro,
tudo se ilumina jubilosamente:
é apagar as luzes do mundo e acender-se por dentro,
e ver os labirintos, os escorregas,
as galerias, os poços de água interiores.
É olhar por detrás dos olhos.
Se alguém perguntar por mim esta noite
poderás dizer-lhe a verdade:
saiu com um amigo que não via há muito tempo.
Voltará tarde.
Até que chegue a manhã
e me encontres
renascido a teu lado, como sempre.
quinta-feira, dezembro 11
Há momentos em que nos surpreendemos a nós próprios… Para mim, o tempo de frequências e de exames sempre foi desses momentos «especiais» em que se faz muito em pouco tempo! Trabalhar sob pressão!
E voltam também sensações que quase tinha esquecidas, a pior de todas aquela de chegar à véspera da frequência, saber que estudei, mas ter a impressão que está tudo tão vago, que nada sei…
Por isso, não me vou demorar. Aliás, vim escrever qualquer coisa para fazer um intervalito antes da revisão final, aquela em que se fixam definitivamente as coisas. E depois dormir, que nas vésperas das frequências dá-me o sono mais cedo
Amanhã é um grande dia! Começa a contagem decrescente: uma semana para levantar voo! É bom estar aqui, aprender (e mostrar aos professores que o trabalho deles valeu a pena, para não se sentirem mal com eles próprios, coitados…), mas também vai ser bom, depois de 3 meses e meio, voltar a casa, estar com quem ficou, ter uma lareira acesa, comida portuguesa… Acabou o sonho! Voltar ao trabalho!
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Hoje não posso pensar muito para não baralhar as ideias… :-) Pois é, tenho estado com a Catequética, e agora, para variar um pouco, estive de volta de mais um capítulo do livro «Pais e Filhos na Grécia Antiga», uma coisa que ando a ler e resumir para História da Educação e da Pedagogia… É difícil de ler, mas até é interessante saber como se desenvolvia, naquele tempo, a relação entre gerações e a educação, para perceber donde vêm algumas coisas que ainda hoje temos...
Amanhã vou ter Introdução às Ciências da Comunicação Social e a tal História da Pedagogia… Também já falei da Catequética Fundamental… por isso, das cadeiras deste semestre, só me falta falar da Hermenêutica da Experiência Religiosa, da Teologia Prática Geral, da Pastoral e Catequese Cristológica, e da Teologia das Religiões. 7 ao todo. Este semestre são estas que me vão ocupando, e bem que chegue, porque em quase todas, para além do exame final, há trabalhos para apresentar (alguns professores descobriram aquilo a que chamam portfolio…), ou testes (tipo frequências) para fazer…
Hoje vou tentar ir dormir mais cedo… mas agora chegou ao msn a Lena, a minha manita… logo se vê!
quarta-feira, dezembro 10
T-011
Não sei quem é autor dete texto... a única referência que tenho é esta: naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt
Veio parar à minha caixa de correio e achei-lhe graça...
Em Novembro de 2037, Portugal passou a chamar-se T-011. Essa mudança veio de uma directiva comunitária que impôs a cada país da União Territorial (o novo nome da Europa) a designação pela letra T seguida do número de ordem na adesão à comunidade. Este é, simplesmente, o resultado mais recente do processo de «neutralidade ideológica» em que a antiga Europa está empenhada há décadas. Tudo começou em 2003 com os debates à volta dos símbolos religiosos em lugares públicos. Na ex-França (actual T-002) protestava-se contra os véus das alunas muçulmanas nas escolas, enquanto em T-005 se discutiam os crucifixos nas salas de aula e por toda a União alguns rejeitavam a referência ao cristianismo na Constituição Europeia. Todos estes casos foram resolvidos pela segunda adenda a este documento, que em 2006 decretou que o Estado deveria manter sempre a mais estrita tolerância e neutralidade em questões ideológicas, para não ofender a sensibilidade de qualquer minoria. Mesmo na unanimidade e consenso, jamais as autoridades poderiam cair na tentação de ceder para evitar problemas futuros.
As questões multiplicaram-se. Logo a seguir foram denunciados os feriados sectários, como o Natal. As festas religiosas nacionais eram um insulto a todos os cidadãos não-cristãos. Os feriados desapareceram com mesma directiva que obrigava a cobrir com tapumes os templos e sedes de partidos para não ofender a sensibilidade dos transeuntes. Também os nomes dos meses do ano, que nas línguas europeias vêm da mitologia, tiveram de ser mudados. As sugestões dos calendários da Revolução Francesa e positivista de Comte foram rejeitadas por igualmente facciosas. O único consenso foi passar a usar letras nos meses. Mas na numeração dos anos manteve-se a situação, para facilitar contactos com outras zonas. Só que se chamou «era estela» e não «era cristã», porque o acontecimento marcante passou a ser um facto cósmico: a «estrela dos reis magos». Deve dizer-se que este atitude era estritamente europeia, pois as outras zonas do mundo, sobretudo EUA, Índia, China e Islão, estavam em afirmação crescente das suas culturas. Eram aliás as minorias vindas dessas regiões que levantavam os problemas e iam exigindo o crescente recuo da cultural europeia para a neutralidade. Depois a questão ultrapassou o âmbito religioso. Em 21-H-2024 as disciplinas de História, Filosofia e Línguas foram retiradas dos programas escolares oficiais, pelas mesmas razões que 15 anos antes tinham tirado as cadeiras de Religião: era impossível arranjar matérias que respeitassem a neutralidade do Estado. Além disso, a lei deixou de regulamentar casamentos ou divórcios de qualquer espécie, por serem opções íntimas de cada um. As ruas são lugares públicos e de repente descobriu-se muita gente afectada pelos seus nomes. Por toda a Europa houve esforços para apear monumentos ou alterar os nomes de ruas em honra de pessoas que só agradavam a minorias. E havia minorias ofendidas por todas as ruas e estátuas. As controversas personalidades históricas, sobretudo políticos e militares, não podem ser honradas pelo Estado neutro. A única solução foi usar números nas ruas. Agora tiraram-se os nomes aos países, que lembravam velhos impérios. Há já quem sugira que se substituam os nomes das pessoas, que podem ser ofensivos para alguns, pelo número do Bilhete de Identidade.
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Há coisas simples, pequeninas, que acabam por dar um «rosto» novo aos dias… aquelas pequenas novidades que se metem no meio da rotina de todos os dias e que, ao fim do dia, me fazem sorrir…
Hoje, por exemplo, foi um dia daqueles que se podem dizer «normais»: acordar a correr (pois… é costume, eu sei, mas hoje foi muito…), aulas, feira (terça-feira é dia de passar um bocadinho pela feira depois das aulas para ver, cheirar, tocar, perguntar os preços, circular no meio das pessoas e das bancas e, às vezes, comprar…), estudar depois do almoço, missa, estudar depois do jantar (sim, com um intervalito para ver um bocado do Madrid - Porto). Mas depois metem-se pelo meio algumas destas coisas pequeninas. Por exemplo, escrever um postal ao Tiago, o meu sobrinho. Ele escreveu-me no meu aniversário e eu não lhe respondi no aniversário dele. E a mim soube-me tão bem receber aquele postal… quanto mais teria sido importante para os 7 anos dele. Lá vai agora…
Depois foram as outras pessoas que me deram sinal de vida… Os «toques», os «mail’s», o convite para um casamento daqui por um ano… As facilidades da comunicação que nos fazem estar perto mesmo quando estamos longe…
Já não volto para o meu livro de Catequética Fundamental que me anda a ocupar agora para o teste de sexta-feira… é tarde e tenho de dormir para acordar amanhã para mais um dia como os outros: um dia de novidade! É bom estar no Advento… para ir percebendo que há sempre esta esperança na novidade de um Deus que se quer sempre fazer presente… pequenino, mas sempre a querer fazer-me sorrir…
terça-feira, dezembro 9
Para compreender o «espírito italiano» recomendo que consultem esta página que compara os italianos com os outros europeus...
segunda-feira, dezembro 8
Hoje tivemos festa da Imaculada cá por casa. Foram convidados os padres portugueses que estão por Roma para virem almoçar. Juntou-se um bom número dos cerca de 50 (!) que devem estar por cá… Um prato de bacalhau, depois do caldo verde, e um Borba tinto a acompanhar fez lembrar os nossos sabores. A celebração em Santo António terminou as festividades… Que me desculpem os amantes daquele tipo de liturgias… é que este dia costumava passá-lo com os «putos» da catequese, e não tem nada que se compare…
Às vezes tenho «saudades» desses momentos com a catequese, as celebrações, as reuniões todos os dias e a todas as horas… Foi talvez o maior «choque» nesta minha passagem para Roma: o deixar de me sentir «padre», neste sentido de estar com e para uma «comunidade» (fosse ela como fosse… mesmo com muitas dores de cabeça à mistura…) para ser mais um «estudante». Outro «choque» foi o perder a oportunidade de estar com os amigos nos momentos importantes que se vivem por lá, como este de hoje em que uns quantos jovens seminaristas foram instituídos leitores e acólitos…
Mas fica para outra oportunidade falar sobre estas coisas… Por agora fico-me por aqui que ainda vou ter que ir (tentar) estudar qualquer coisa.
domingo, dezembro 7
É sempre impressionante um quadro de Caravaggio, um fresco de Rafael, uma escultura de Bernini ou de Miguel Ângelo… ou aquele tecto barroco de Andrea Pozzo, na igreja de Santo Inácio de Loyola… ou… Roma é esta «caixa enorme de surpresas» e, em cada canto, podemos encontrar uma, pequena ou grande.
Hoje andei, mais uma vez, pelas ruas e praças desta cidade, a revisitar alguns monumentos e igrejas com o Gonçalo a Filipa e a Sandra. Ao terminar a tarde, entrávamos em alguns lugares e quase já não tínhamos espaço para nos surpreendermos, tal a «quantidade» de beleza que já tínhamos visto.
Caminhávamos pela Via del Corso, em direcção à Praça do Popolo rodeados de milhares de italianos e turistas que enchiam a avenida sem carros, e já nem fazíamos um esforço para entrar e ver algumas das igrejas que por ali se encontram…
Até certo ponto fez-me lembrar um pouco aquilo que nos tinha dito o bispo que presidira à celebração onde fomos em Santo António dos Portugueses: de tão habituados que estamos a esta presença de Deus, podemos até já nem perceber a Sua incarnação… mas Ele está para nos surpreender, uma vez mais, quando O deixarmos revisitar-nos…
Sim, terei de voltar áquela e a tantas ruas desta cidade...
sábado, dezembro 6
Sempre estive com o Gonçalo e as suas simpáticas amigas, a Filipa e a Sandra. Demos uma volta nocturna pelas praças centrais de Roma, e acabámos no «Campo de Fiori» a beber qualquer coisa numa esplanada: o tempo de Dezembro ainda permite estas noites ao ar livre.
É simpático poder encontrar amigos por aqui! Fica o convite a quem quiser visitar a «cidade eterna»!
Amanhã, em princípio, voltaremos a encontrar-nos.
Com esta volta acabou tarde um dia que começou cedo, para poder visitar um pouco da fascinante cidade de Pompeia. Em tantas coisas pareceu bem mais organizada que a de Roma: as ruas direitas (e quase limpas), os passeios, as passadeiras, os esgotos... pequenos pormenores que fazem perceber a sua grandeza. E depois a riqueza das casas, os frescos, as pinturas, os jardins, as termas, os teatros... vale a pena passar uma tarde por al¡!
Algumas imagens impressionam, como subir a alguns sítios e olhar em volta: toda aquela imensidão de ruínas que falam do poder do homem... e do poder da natureza!
Ao longe, mas perto, o Vesúvio... grande, imponente, majestoso, tão silencioso como as «estátuas» deixadas pela «sua» lava, «estátuas» de rostos que parecem querer esconder-se da morte... Passei por aquelas ruas entretido (também) com a vida e a morte, com o lugar do homem no mundo, com as suas capacidades e limites, com a beleza e a destruição... a paradoxal história e a sua memória, que podem ser apreciadas ou vividas de tantas formas...
Gostava de deixar umas imagens, mas ainda não aprendi a fazer isso! Fica para depois.
sexta-feira, dezembro 5
Um primeiro olá!
Estava aqui a pensar como fazer para contactar o Gonçalo, um jovem caminheiro de Leiria que, pelo que falámos, estará estes dias de fim de semana prolongado aqui por Roma, quando fui dar ao blog dele... em vão... não tinha lá mais contactos... e foi assim, sem pensar, que comecei a carregar nos «botões» que me fizeram chegar aqui, ao momento de escrever qualquer coisa no «meu» blog...
Não costumo consultar blogs... e nunca consegui manter um diário para além da primeira entrada... pelo que não sei muito bem o que vai acontecer com este espaço...
Também ainda não tenho o «estatuto editorial» definido... Sei simplesmente que estou em Roma, a estudar (umas vezes mais que outras...) pastoral catequética, e que estarei por aqui 3 anos! Que deixei muitos amigos e amigas por terras lusitanas, e que Leiria não foge nunca da minha memória... por isso talvez vá deixando por aqui um pouco de mim... simplesmente para que eu nunca me esqueça que, se estou aqui, não estou por mim, mas por aqueles que deixei... e que, mesmo aqui, continuo a ser padre daí, que é o que mais gosto de ser.
Isto para dizer que, em princípio, o que vai passar-se aqui é simplesmente um pouco do que vou vivendo, pensando, sonhando, pensando, rezando... mas não prometo muito, para não falhar... até porque se correr bem amanhã será o primeiro dia a falhar: todo o dia a passear até Pompeia, e à noite espero conseguir encontrar o Gonçalo para beber uma cervejola com ele!
Até sempre!
Zé Henrique