terça-feira, fevereiro 28

Para colmatar a falta de outros dias, hoje o trabalho cresceu bem que chegue! Mas, apesar de já ser tarde, queria escrever alguma coisa por aqui, para ver se amanhã o termino este tema do «Reino»…

Por isso, vou tentar escrever qualquer coisa rápida sobre os dois conflitos em âmbito social nos quais Jesus entreviu além dos «justos» e «pecadores» de ontem. Por um lado os Evangelhos apresentam-nos Jesus a fazer frente ao conflito entre ricos e pobres. Os ricos eram relativamente poucos (o rei Heródes e a sua corte, as famílias dos sumo-sacerdotes, e os anciãos do povo que eram por norma os grandes proprietários das terras); alguns artesãos, sem serem ricos, tinham a sua vida assegurada pelo seu trabalho; a grande maioria do povo vivia na pobreza, não necessariamente no limite da pobreza, mas na precariedade do trabalho por jornas… Muitas vezes estes eram vítimas dos ricos (Mc 12, 40; Lc 20, 47).

Jesus Mafa (Camarões), Zaqueu encontra Jesus

Não se pode dizer que Jesus não procure o bem dos ricos, nem que evite a sua companhia. Várias vezes O vemos em banquetes por eles oferecidos… E é emblemático o exemplo de Zaqueu (Lc19, 1-10) para ver como procura a salvação de todos. Mas a verdade é que se Ele faz alguma preferência, se se mete do lado de alguém é em primeiro lugar do pobre: os pobres foram os primeiros e principais destinatários do seu anúncio.

Quanto ao último conflito, entre homens e mulheres, pode dizer-se que a sociedade em Israel era fortemente patriarcal e machista. A mulher era sempre objecto da decisão do homem… Como em muitas outras sociedades daquele (e deste?) tempo, a sua dignidade fundamental nem sempre era respeitada.

Jesus Mafa (Camarões), A mulher samaritana

Exemplos de como Jesus se mete do lado da mulher, que mais sofria as consequências da marginalização, podemos vê-los na discussão com os saduceus sobre a ressurreição (Mt 2, 22-32) ou quando é interrogado sobre a questão do divorcio (Mt 19, 1-9). Mas é sobretudo uma referência o texto do encontro de Jesus com a Samaritana (Jo 4, 1-42) para ver como, para Jesus, trata a mulher como digna de todo o respeito.

Também aqui se há uma opção em Jesus é sempre por quem é objecto de maior marginalização ou exclusão. Ele quer que os conflitos sociais seja ultrapassados, para bem de todos, mas sobretudo para bem daqueles que são os mais débeis na situação presente.

O «Reino de Deus», neste âmbito social, assume um papel de intervenção e libertação. Superar os conflitos para que todos tenham uma igualdade fundamental no respeito pela dignidade humana, igualdade de oportunidade, que vejam respeitado o seu direito a uma vida humana condigna. E sempre com uma dimensão de «opção preferencial» pelo mais pobre, pelo eu mais sofre, pelos últimos…

segunda-feira, fevereiro 27

Hoje saí um pouco à rua para apanhar sol! É verdade, está por cá um tempo primaveril, e não me aguentei a tarde toda por casa. E já que era Domingo de Carnaval, fui ver se se passava alguma coisa na cidade. Mas nada! Apenas uma ou outra criança a marcar a data… (também não procurei muito!)

Por isso, entretanto estamos na Quaresma. E o ciclo comum vai interromper-se durante uns tempos, até ao Pentecostes. E eu que ainda não acabei o meu ciclo de reflexão sobre o «Reino»… Mas pronto, a ver vamos se o faço ainda antes do início da Quaresma, e por agora vou mesmo pegar no Evangelho de hoje para dar um passo em frente.

Depois das acções de Jesus em favor das pessoas individuais, para tentarmos perceber um pouco mais o que Ele entendia pelo Reino que anunciava, podemos analisar as suas intervenções em âmbito social: três grupos de conflitos existentes no povo do seu tempo em que entreviu. Conflito entre os «justos» e os «pecadores», entre ricos e pobres, entre homens e mulheres.

O Evangelho deste Domingo põe-nos diante de um exemplo do primeiro conflito: entre «justos» e «pecadores». «Por que motivo jejuam os discípulos de João e os fariseus e os teus discípulos não jejuam?», perguntaram a Jesus…

Na base está um conflito religioso. Os «justos» são aqueles que observam fielmente a Lei de Moisés com todos os seus preceitos: esses eram os amados de Deus, dignos da Sua bênção, aqueles que por seus próprios méritos mereciam toda a salvação de Deus. Os «pecadores», todos o outros que não conseguiam ou não podiam praticar a Lei. E estes eram desconsiderados. O melhor exemplo é talvez o da parábola fariseu e do publicano que sobem ao templo para rezar (Lc 18, 9-14): o «justo» fariseu dava graças a Deus por tudo o que fazia, até jejuava duas vezes por semana… Já o publicano não tinha muito de que se gabar diante de Deus e ficou-se por pedir a piedade de Deus porque sabia que só Ele o podia salvar. E diz Jesus que este saiu justificado, enquanto que o fariseu não.

Jesus declara sempre que Deus não faz acepção de pessoas… mas se tem alguma preferência, essa é pelos «últimos», neste caso, os «pecadores» que estão dispostos a acolher a novidade de Deus, a perceber a sua «doença» e onde poderão encontrar o remédio: «Os sãos não têm necessidade de médico, mas sim os doentes; não vim chamar os justos, mas sim os pecadores, ao arrependimento» (Lc 5, 31-32).

O Reino de Deus passa, portanto, pela superação da marginalização entre justos e pecadores, e propõe uma fraternidade acolhedora de todos, em que cada um se reconhece amado primeiro por Deus… Não se trata de pôr remendos, nem de experimentar se o vinho novo se aguenta nos odres velhos: a proposta é a do acolhimento da novidade de Deus num coração transformado. Não se trata de cumprir «rituais de jejum», mas de se deixar transfigurar pela presença do «noivo», de perceber que para além dos nossos «méritos» está sobretudo um Pastor que procura a ovelha pedida, o Pai que quer abraçar (cf. Lc 15)…

Duccio di Buoninsegna, Jesus fala aos Apóstolos
Museo dell'Opera del Duomo, Siena


Naquele tempo, os discípulos de João e os fariseus guardavam o jejum. Vieram perguntar a Jesus: «Por que motivo jejuam os discípulos de João e os fariseus e os teus discípulos não jejuam?». Respondeu-lhes Jesus: «Podem os companheiros do noivo jejuar, enquanto o noivo está com eles? Enquanto têm o noivo consigo, não podem jejuar. Dias virão em que o noivo lhes será tirado; e então, nesses dias jejuarão. Ninguém põe remendo de pano novo em vestido velho, porque o remendo novo arranca parte do velho e o rasgão fica maior. E ninguém deita vinho novo em odres velhos, porque o vinho acaba por romper os odres e perdem-se o vinho e os odres. Para vinho novo, odres novos».

(Mc 2, 18-22)

sexta-feira, fevereiro 24

Abbé Nozal, O Cristo Mudo (1994)

Uma das cadeiras deste segundo semestre é Primeiro anúncio e catecumenato. Para iniciar, uma constatação que não é de agora, mas que não deixa de ser sempre actual: a questão missionária não está necessariamente ligada ao partir para países longínquos para aí anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo.

A Igreja tem de estar sempre em «estado de missão», faz parte do seu ser. E isso em qualquer lugar. E cada vez mais naqueles que são os países de antiga tradição cristã, com o nosso: aí (aqui), como lá longe, é o lugar de viver em missão ad gentes.

A propósito, V. Neckebrouk publicou um livro em 1990 a que chamou qualquer coisa como Os demónios mudos. O sindroma anti-missionário na Igreja ocidental, em que «acusa» muitos cristãos, leigos e padres, de estarem possuídos por uma espécie de demónio ou espírito mudo (cf Mc 9, 17; Lc11, 14; Mt 9, 32-33) que os impede de anunciar com coragem e convicção o Evangelho a quem não o conhece…

Procurando ser realista, recordei durante a aula algumas situações: de jovens de Leiria que partem para Angola em cada Verão… mas também de muitos que sinto viverem e anunciarem com entusiasmo, aí onde estão, Aquele em quem acreditam. E de saber também do entusiasmo daquelas pessoas que vão passando pelo Catecumenato ou pelos grupos de adultos de preparação para o Crisma, ou simplesmente daqueles convites que se vão repetindo para participar num momento de oração ou numa semana em Taizè…

Muito há para fazer, é verdade! A «missão» começa em casa, também é verdade (ou na escola, ou no trabalho, ou no grupo de amigos…)! Mas também é verdade que há sinais de Esperança em tantas vidas que, mesmo em pequenos sinais, ou em poucas palavras, são capazes de se liberar dos espíritos mudos.

quinta-feira, fevereiro 23


Robert Stephenson Smyth Baden-Powell.
Nasceu em Londres a 22 de Fevereiro de 1857.
50 anos depois, 1907, começava a aventura do Escutismo.
Actualmente há cerca de 28 milhões de Escuteiros por todo o mundo.

A finalidade da formação Escutista é melhorar o nível dos nossos futuros cidadãos, especialmente no que diz respeito ao CARÁCTER e SAÚDE; substituir o egoísmo pelo Serviço, tornar os moços individualmente capazes, moral e fisicamente, com o fim de aproveitar essa capacidade para servir os seus semelhantes.

(B.-P., Auxiliar do chefe-escuta)

quarta-feira, fevereiro 22

Um grito surdo em rosto de pedra
Pormenor de uma rua de Siena

terça-feira, fevereiro 21

Não queria deixar passar a oportunidade para avançar um pouco mais no tema do «Reino»… Pouco a pouco, acompanhando o ritmo do Evangelho de Marcos em cada Domingo, podemos situar-nos no último grande bloco das acções de Jesus em favor das pessoas individuais. Depois dos exorcismos e das curas, o Evangelho deste Domingo oferece-nos um quadro de perdão dos pecados.

Um dos significados mais fortes do termo «pecado», no tempo de Jesus, é o de débito para com Deus: quem pecava, transgredindo a Lei, era considerado como um devedor diante de Deus. Para saldar esta dívida era necessário praticar diversos ritos, como prescrevia a Lei dei Moisés (Levítico 4-5). E muitos pobres não tinham os meios para praticar esses ritos… Por isso, não conseguiam «livrar-se» dessa dívida: permanecia o pecado e o sentido de culpa (Gallo).

Jesus perdoava-lhes estes pecados. E fazia-o em nome de Deus, o que provocava o escândalo (como o dos escribas do texto deste Domingo…), mas aos próprios lhes dava a capacidade de deixar as suas «paralisias» e caminhar de novo, para uma vida nova…

O Reino de Deus, na acção de Jesus, demonstra-se mais uma vez como uma realidade libertadora: a eliminação do pecado e das suas consequências mortificantes para o coração dos homens e mulheres (Lucas 7, 36-50; João 8, 3-11) com quem se vai cruzando.

Sintetizando: perdoando, curando e libertando dos espíritos, Jesus tornava presente sinais concretos daquilo que para ele significava o Reino de Deus. Todas as formas de morte eram eliminadas para dar lugar a formas de Vida. A soberania de Deus é um irromper de Vida em todos os espaços da existência humana.

Quanto ao texto deste Domingo, apenas uma breve nota: se a paralisia é a total incapacidade de se mover, e se para os Evangelhos o problema fundamental do homem é a sua relação com Deus, este paralítico é também sinal das muitas incapacidades de nos movermos para Deus e para os outros (o tal pecado…). Por vezes, necessitamos de outros que nos ajudem a encontrar o caminho da Vida (como os homens que levam o paralítico a Jesus...). Tal como podemos ser dos que ajudam outros a deixar a «imobilidade» de uma vida sem a sua relação fundamental com Deus…

Cura do paralítico de Cafarnaum
Igreja de Santo Apolinário Novo, Ravena

Quando Jesus entrou de novo em Cafarnaum e se soube que Ele estava em casa, juntaram-se tantas pessoas que já não cabiam sequer em frente da porta; e Jesus começou a pregar-lhes a palavra. Trouxeram-Lhe um paralítico, transportado por quatro homens; e, como não podiam levá-lo até junto d’Ele, devido à multidão, descobriram o tecto por cima do lugar onde Ele Se encontrava e, feita assim uma abertura, desceram a enxerga em que jazia o paralítico. Ao ver a fé daquela gente, Jesus disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados». Estavam ali sentados alguns escribas, que assim discorriam em seus corações: «Porque fala Ele deste modo? Está a blasfemar. Não é só Deus que pode perdoar os pecados?». Jesus, percebendo o que eles estavam a pensar, perguntou-lhes: «Porque pensais assim nos vossos corações? Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: ‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te, toma a tua enxerga e anda’? Pois bem. Para saberdes que o Filho do homem tem na terra o poder de perdoar os pecados, ‘Eu te ordeno – disse Ele ao paralítico – levanta-te, toma a tua enxerga e vai para casa’». O homem levantou-se, tomou a enxerga e saiu diante de toda a gente, de modo que todos ficaram maravilhados e glorificavam a Deus, dizendo: «Nunca vimos coisa assim».

(Mc 2, 1-12)

segunda-feira, fevereiro 20


Piazza del Campo, Siena

Siena é uma daquelas cidades que nos transportam para outros tempos… Sabe sempre bem sair um pouco de Roma e, apesar de ser ainda um pouco distante, esta é uma zona que vale a pena visitar, de novo. Depois de percorrer um pouco das ruas da cidade de Santa Catarina, e de almoçar com vista para a praça principal, ainda deu para uma pequena passagem por San Gimignano, onde as torres são o sinal da opulência de treze famílias do século XIII…

San Gimignano

A primeira foto, de Siena, na originalidade das cores, é também a marca de algum pânico perante uma máquina que hoje lhe deu para trocara as cores todas… Felizmente não durou muito, e depois de umas pacandinhas e de a ligar e desligar algumas vezes, ainda voltou ao normal… Prova é a posterior, de San Gimignano, onde às cores da pedra medieval se junta o colorido do Carnaval que hoje trazia a confusão àquela pacata cidade.

Soube bem!

domingo, fevereiro 19

Sábado à noite é costume sair um bocadito… Hoje fiquei-me por casa. E consegui terminar o que queria. O primeiro capítulo já tem uma primeira versão de cerca de 30 páginas. Fiz uma impressão para depois o ler com mais calma e ver como está…

Por isso, amanhã vou-me permitir uma «escapadela». Ainda não sei muito bem, mas em princípio procurar ir almoçar a Siena, que é a cerca de 230 quilómetros de Roma. Voltar, porque já por lá estive uma vez, mas muito a correr, e fiquei com muito boa impressão da cidade.

sábado, fevereiro 18

Match Point, de Woody Allen


Um filme a ver, mesmo que seja algo desconcertante… sai-se com uma sensação estranha… O Crime e Castigo de Dostoievsky anda por aí revisitado, mesmo que, no fim, nada tenha a ver… O jogo do certo e do errado, do amor e do desejo, da verdade e da mentira, da inteligência e da sorte…

quinta-feira, fevereiro 16

Diz-me se é verdade
Se é verdade tudo aquilo que escreveram Lucas, Mateus
E os outros dois,
Diz-me se é verdade,
Se é verdade prodígio das Bodas de Cana
E o prodígio de Lázaro
Diz-me se é verdade
Se é verdade aquilo que contam as crianças
À noite antes de irem dormir
Sabe-lo bem, quando dizem Pai nosso
Quando dizem nossa Mãe
Se fosse verdade tudo isto
Eu direi sim
Oh, certamente direi sim
Porque é tão belo tudo isto
Quando se acredita que é verdade

Jacques Brel



Serve de introdução a um livro de André Fossion, Recomeçar a acreditar. Um livro escrito em França onde são muitos os «recomeçantes», grupos de adultos que procuram redescobrir, em adultos e de forma adulta, o fascínio da fé.

terça-feira, fevereiro 14

Às vezes é preciso muita paciência para reconhecer que o material pode ter razão… Acho que nunca tinha chamado tantos nomes ao tipo que inventou o Word…

sábado, fevereiro 11

Pouco a pouco, a tese lá vai avançando. Acho que consegui manter a média das 2 páginas por dia. Mas às vezes é complicado olhar para o relógio e ver que se passou quase uma hora para fazer uma nota de rodapé…

Como ando com um bocado de falta de inspiração, apesar de escrever ser o que tento fazer estes dias, deixo um texto que me enviaram. Dizia que é da autoria de Fernando Pessoa… Gosto sobretudo da forma como termina!

Ser feliz

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

(Fernando Pessoa)

quarta-feira, fevereiro 8

Passar os dias ao computador tem a vantagem de se irem ouvindo as rádios portuguesas…

terça-feira, fevereiro 7

A muito custo, lá consegui articular umas frases, arrancadas a esforço e com uma resma de livros à frente… Não está mal para começar! Agora é ganhar-lhe o gosto…

Pelo meio a questão da liberdade de expressão e o respeito pelas convicções do outro, ou melhor, vi parte do debate sobre as caricaturas e a resposta violenta que agora agita o mundo. E de facto, esta desproporção entre causa e efeito não deixa de ser preocupante e levantar a questão de um aproveitamento que vai para além de uma questão religiosa sobretudo para um campo político…

Mas penso que a reflexão não se pode limitar a dizer que a culpa está na «desproporção» do outro lado. Liberdade e responsabilidade é um dos binómios em que os conceitos nunca deveriam aparecer desligados um do outro, ou melhor, um não se deveria poder explicar sem o outro. E então talvez se fosse para além do simples «a minha liberdade acaba onde começa a tua», para entrar numa lógica de diálogo na diferença onde o outro não é o «limite» mas o lugar da realização de uma liberdade vivida em conjunto…

segunda-feira, fevereiro 6

O mar em Óstia

Acabados os exames, um fim-de-semana mais descansado, com direito a visitar o mar e tudo… Depois de tanto tempo «enclausurado» gosto sempre de poder estar um bocado a olhar para o mar, mesmo que este daqui seja apenas uma «amostra»: demasiado calmo, quase sem ondas, nada de espuma, sem «aquele» cheiro a mar, areias escuras… No Lido d’Óstia (a praia mais perto de Roma) já abundam as crianças com os trajes carnavalescos. Hoje até por lá andava um senhor com uma daquelas cobras enormes enroladas ao pescoço para consolação das crianças que lhe queriam fazer uma festa. Enfim, ele há gostos…

A volta foi também para sair um bocadito com a minha prima Gorete que agora está por cá, para ficar durante todo o segundo semestre a fazer um curso na minha Universidade. É religiosa, das Concepcionistas ao serviço dos pobres, que têm uma pequena comunidade na casa do Cardeal Saraiva. Ela veio quando estava em finais de semestre, e ainda não tinha dado para estar um bocadito com ela. Por isso, aproveitei o dia de hoje, na fase de transição, antes de começar a sério com a tese. Por enquanto, o trabalho para a tese reduziu-se a espalhar livros pelo quarto!

Enfim, um dia que contrastou um bocado com o Evangelho que o iniciou… De facto, este Domingo o que se vê é precisamente um Jesus que quase não tem tempo para nada. Sai de um lado para ir para outro, sempre com gente à volta a querer um pouco da sua atenção, da sua presença que cura e expulsa demónios… Acorda cedinho para ter tempo para estar a sós com o Pai, mas vão logo ter com ele: «Todos te procuram»...

Voltamos ao «Reino». Esta é a força que tem Jesus quando está ao serviço do «Reino»: não é capaz de deixar ninguém de lado… e todos o procuram… e mesmo assim não se detém: quer ir mais longe, chegar a outros lugares, levar essa Vida e Esperança a mais gente…

E nestes gestos de cura, ele fala também de que «Reino» se trata: é também o «lugar» da manifestação de uma soberania divina onde a pessoa na sua totalidade (ultrapassando os dualismos que herdámos da cultura helenística e que nos fazem pensar em alma e corpo como realidades separadas, coisa que não existe na Bíblia…) se liberta do sofrimento. Cada cura é como que «uma pequena ressurreição parcial» (Gallo), onde os sinais da morte eram eliminados, sinal de um triunfo de Jesus sobre tudo o que aprisiona o homem no sofrimento, na morte, no pecado…

Tal como nos exorcismos, as curas são sinal de um «Reino» onde Deus dá a Vida. De facto, muitas destas curas têm também uma função simbólica da condição humana diante de Deus: «pessoas débeis e desencorajadas que começam de nova a caminhar; pessoas surdas para toda a palavra de Deus que se metem de novo numa atitude de escuta; gente que é cega para os sinais de Deus, e que perdeu o sentido de orientação, que redescobre novamente o sentido da vida e a direcção do seu caminho» (Gevaert).

A cura da sogra de Pedro
Duomo de Monreale - Palermo (Sicília)

Naquele tempo, Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama com febre e logo Lhe falaram dela. Jesus aproximou-Se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. Ao cair da tarde, já depois do sol-posto, trouxeram-Lhe todos os doentes e possessos e a cidade inteira ficou reunida diante da porta. Jesus curou muitas pessoas, que eram atormentadas por várias doenças, e expulsou muitos demónios. Mas não deixava que os demónios falassem, porque sabiam quem Ele era. De manhã, muito cedo, levantou-Se e saiu. Retirou-Se para um sítio ermo e aí começou a orar. Simão e os companheiros foram à procura d’Ele e, quando O encontraram, disseram-Lhe: «Todos Te procuram». Ele respondeu-lhes: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim». E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas e expulsando os demónios.

(Mc 1, 29-39)


quinta-feira, fevereiro 2

Uma época de exames pequenina… Amanhã (sexta) termina com o terceiro, A Igreja e os jovens – perspectiva eclesiológica na catequese e na pastoral. E também a mais descontraída de todas: não sei se pela prática, pelo hábito, por já conhecer os professores, ou pelo facto de ter poucas cadeiras e as ter acompanhado bastante bem durante o semestre, não me deu para me preocupar demasiado com estes exames finais.

As aulas só recomeçam a 15 de Fevereiro. Até lá, apesar do tempo livre, a única coisa que tenho programada é continuar «fechado» no quarto. A 15 de Maio termina o prazo da entrega da tese… Por isso, este tempo é precioso para avançar: voltar a espalhar a bibliografia pelo quarto, abrir o esquema da tese, e começar a meter material lá para dentro…

Ao todo são 3 meses para produzir cerca de 100 páginas de texto. Tirando as férias da Páscoa, algumas visitas que vou ter e outras possíveis saídas mais pequenas, ficam uns 2 meses. Fazendo os cálculos, dá cerca de 2 páginas por dia… O que não vai ser propriamente fácil, tendo em conta que se vão meter outros trabalhos das cadeiras do 2º semestre…

Mas pronto, o que tem de ser tem muita força, e já estou a fazer este trabalho importante: auto-consciencialização!