sábado, dezembro 31


«Passam os dias, passam as horas, mas para nós o que conta é ficar em Ti…»


Era assim que começava uma música de mensagem que já não ouço há uns tempos… Veio-me agora à recordação quando pensei passar por aqui para uma última mensagem em 2005. Porque, no fundo, é preciso que alguma coisa dê sentido e consistência ao passar do tempo, que alguma coisa unifique o que vamos sendo e fazendo no passar de cada dia, e de cada ano… E este «milagre da renovação» das doze badaladas de hoje se torne uma celebração da esperança…

Um bom ano de 2006!

"Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante vai ser diferente".

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, dezembro 22

Paul Klee, Anjo

Talvez a última visita por aqui antes de Natal... E como me torno sempre menos «virtual» em férias, o melhor é mesmo deixar já os votos de boas festas a quantos por aqui possam passar! Que a simplicidade de um Deus que se revela nas coisas simples, nos possa ir ajudando a fazer da vida esse traçado simples que nos trasporta à presença de Quem se quer fazer sempre presente... E que, mais uma vez, nos consigamos fascinar na simplicidade do «Menino que para nós nasceu», no Deus que quis montar a sua tenda no campo da nosso vida...

terça-feira, dezembro 20


Praça de São Pedro, terça-feira 20 de Dezembro de 2005, 17.28h. Já por lá está a árvore, mas ainda não a vi iluminada. O presépio está a ficar pronto, mas tenho a impressão que só o vou ver para o ano…

segunda-feira, dezembro 19

Lago de Albano

Para um Domingo de Dezembro, apesar do frio, o tempo proporcionou-se a não ficar sempre em casa… Até porque hoje não havia almoço por cá, e fomos convidados a sair para almoçar. E pronto, o lago de Albano não é assim tão longe e faz sempre bem variar de paisagem (a foto não é de hoje… hoje o céu estava mais azul…).

E o dia ainda rendeu! O trabalho de Antropologia e catequese já vai bem adiantado! Já falta pouco… Quinta-feira é para esquecer, que é dia de viagem. Por isso, três dias e estão aí as férias.

Hoje, com o Evangelho da anunciação, já se começava a viver essa mesma urgência! Faz-se hora! Deus quer fazer-se um de nós!... E quando o encontro acontece há lugar para a entrega que torna possível o que parece impossível!

Pelo meio fica o tanto que não conhecemos desta história… São mais os silêncios que as palavras… Por isso, também o lugar para a imaginação, a poesia, a arte… e não será tudo isso o lugar também da fé, que se vive também de silêncios e da descoberta de novos caminhos de expressão daquilo que, por vezes, não se sabe bem dizer?...


Beato Angélico, Anunciação – Florença, Convento de São Marcos

Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo:
«Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo; bendita és tu entre as mulheres».
Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; e o seu reinado não terá fim».
Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?»
O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice porque a Deus nada é impossível».
Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra».

(Lc 1,26-38)

sábado, dezembro 17


Já há uns tempos que andava para passar por lá… Mas como nem sempre se é muito rápido a passar das decisões à prática, lá se foi passando e passando o tempo, até que ontem, finalmente, depois de acabar o trabalho para «Igreja e jovens – perspectivas eclesiológicas na pastoral juvenil e catequese», agarrei em mim e meti-me a caminho de Trastevere, até à cantina da Comunidade de Santo Egídio, que todas as quartas, sextas e sábados distribui uma refeição àqueles que dela precisam…

São muitos os voluntários que todas as semanas passam por lá para ajudarem. Mas muito mais os que se apresentam para procurarem uma refeição quente e digna…

A Comunidade de Santo Egídio nasceu em Roma em 1968, logo após o Concílio Vaticano II. Hoje é um movimento de leigos a que aderiu mais de 50.000 pessoas, empenhado na comunicação do Evangelho e na caridade, em Roma, em Itália e em mais de 70 países dos diversos continentes. É uma «Associação pública de leigos da Igreja». As diferentes comunidades, dispersas pelo mundo, condividem a mesma espiritualidade e os fundamentos que caracterizam o caminho de Santo Egídio:

A oração, que acompanha a vida de todas as comunidades e constitui o seu elemento essencial.
A comunicação do Evangelho, coração da vida da Comunidade, que se estende a todos os que buscam e pedem um sentido para a vida.
A solidariedade com os pobres, vivida como serviço voluntário e gratuito, no espírito de uma Igreja que é «Igreja de todos e particularmente dos pobres» (João XXIII).
O ecumenismo, vivido como amizade, oração e busca da unidade entre os cristãos de todo o mundo.
O diálogo, indicado pelo Vaticano II como caminho da paz e da colaboração entre as religiões, mas também como modo de vida e como método para a reconciliação nos conflitos.

quinta-feira, dezembro 15

Ainda falta algum tempo, mas como para alguns as férias de Natal começam já amanhã (hoje), hoje (ontem) foi dia de festa de Natal cá por casa… Depois da missa, tivemos direito ao tradicional bacalhau (enfim… bem que podiam ser tradicionais os bifes…), acompanhado de um Borba branco, e depois uma partilha de um pouco de alguns dos 13 países representados por cá. Sobretudo cantos de Natal. Quanto a mim, fui muito discreto… Apenas uma apresentação em PowerPoint, com alguns amigos, tentando meter toda a gente numa pequena e simples história de Natal…

E pronto… começa a recta final antes das férias. É começar a ver a casa a ficar vazia… Eu devo ser dos últimos a ir embora: apenas na quinta 22… Até lá, depois desta noite sem ter avançado nada nos trabalhos, ainda falta suar um bocadito para acabar um trabalho que estou a fazer, e outro que ainda nem comecei… Mas estes têm mesmo de ser feitos, que depois do Natal é para pegar a sério na tese…

segunda-feira, dezembro 12

«Quem és tu?» É talvez a pergunta mais inquietante que nos pode ser feita… Dependendo do contexto, e da pessoa que nos interroga, vamos tentando definir-nos a nós próprios: o nome, as raízes familiares, o trabalho ou o lugar que ocupamos… Mas… quem somos nós de facto?

João Baptista, no texto do Evangelho de São João que hoje nos era oferecido neste Domingo que contém um especial convite à alegria cristã, é também confrontado com essa pergunta. A resposta é dada por uma série de negações (e verdade seja dita, sabermos o que não somos é já é uma resposta…) para se definir como uma «voz», que é expressão da Palavra (Jesus) e aponta para ela: «Eu baptizo em água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias».

O desafio à alegria cristã, penso que está precisamente aqui: saber quem somos na relação com Deus, e de Deus connosco. Não temos de ocupar o lugar d’Ele, nem de nos confundirmos com Deus. Não deixarmos de ocupar o nosso lugar de criaturas, que apontam para o Criador. Como João. O importante não é fixarmo-nos em nós próprios, mas sabermos da relação que nos constitui naquilo que somos. A alegria está precisamente na capacidade de irmos para além de nós próprios, de nos auto-transcendermos, de entrarmos numa relação que nos faz perceber o sentido de nós próprios e da nossa vida!

«Quem és tu?»… E dar uma resposta que se faz vida numa «voz» que aponta para a «Palavra» que se fez carne… e tornar actual (porque acontece no aqui e agora da vida de cada um) o mistério da Incarnação. Talvez por isso (ou não…) se diga que «o Natal é sempre que o homem quer!»

Leonardo Da Vince, São João Baptista

Apareceu um homem enviado por Deus, chamado João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de que todos acreditassem por meio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. Foi este o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram, de Jerusalém, sacerdotes e levitas, para lhe perguntarem:
«Quem és tu?» Ele confessou a verdade e não negou; ele confessou:
«Eu não sou o Messias».
Eles perguntaram-lhe: «Então, quem és tu? És Elias?»
«Não sou», respondeu ele.
«És o Profeta?».
Ele respondeu: «Não».
Disseram-lhe então: «Quem és tu? Para podermos dar uma resposta àqueles que nos enviaram, que dizes de ti mesmo?»
Ele declarou: «Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Endireitai o caminho do Senhor’, como disse o profeta Isaías».
Entre os enviados havia fariseus que lhe perguntaram:
«Então, porque baptizas, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?»
João respondeu-lhes: «Eu baptizo em água, mas no meio de vós está Alguém que não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias».
Tudo isto se passou em Betânia, além Jordão, onde João estava a baptizar.

(Jo 1,6-8.19-28)

sábado, dezembro 10

Distraído, esqueci-me de assinalar o 2º aniversário deste espaço… Foi no dia 5 de Dezembro que este espaço fez 2 anos de vida! Às vezes com mais vida que outras, mas lá se vai mantendo. Os parabéns sobretudo para quem por cá vai passando e fazendo com que tenha algum sentido partilhar um pouco de mim…

sexta-feira, dezembro 9


Crash, contacto físico, de Paul Haggis, é um filme digno de ser visto… Quando me falaram dele, lembrei-me de um outro, com o mesmo nome, que saiu já há vários anos. Mas não, este é um novo, diferente, e muito interessante. E foi assim que, depois das celebrações da Imaculada Conceição na igreja de Santo António dos Portugueses, lá aproveitei para ir até ao cinema Adriano, onde já não ia há muito, para ver este filme que, para quem o tinha visto, era digno de ser visto. E de facto é! Histórias que se cruzam numa cidade onde cada um é capaz do melhor e do pior… até certo ponto, uma revisitação à parábola do trigo e do joio que habita cada um de nós, num ambiente de pluralidade e conflito racial, mas em que cada «raça» não deixa de ser incorporada dentro desta realidade que a todos atinge: o bem e o mal.

Para dia da Imaculada Conceição, não deixa de ser interessante, vendo do nosso (meu…) ponto de vista onde, no confronto com a resposta de Maria, nos temos de debater, a cada momento, com a realidade de responder perante as situações concretas da vida para procurar ir realizando a vontade de Deus que nunca ultrapassa a liberdade de Lhe dizermos que «sim»…

quinta-feira, dezembro 8

Finalmente está aprovado o esquema da tese! Agora só falta o pior: escrevê-la! Vai andar à volta do método escutista, como método de educação para a fé. Porque penso que o escutismo tem muitas potencialidades para ser um caminho de descoberta e vivência de uma relação com Deus, e que pode dar pistas para uma actividade catequética mesmo fora do escutismo católico português. E também porque percebo que nem sempre esta educação para a fé é bem conseguida no escutismo, revisitar a originalidade do seu método pode ajudar a consciencializar da validade de uma proposta… Depois há toda a problemática de relação entre movimentos e paróquias, catequese e educação para a fé, comunidade educativa e percurso pessoal de vida, experiência de vida e anúncio do Evangelho…

Se vou conseguir ou não fazer este caminho, é o que ainda estou para perceber… De qualquer maneira, está traçado o rumo, o que já não é mau!

terça-feira, dezembro 6

No Castelo de Sant'Angelo, com São Pedro ao fundo

A passagem da Carina por Roma (já que era uma «repetente» e conhecia quase tudo de um outro fim-de-semana que passou por cá enquanto estava em Florença, para onde vai voltar…) deu para passar por lugares novos, entre os quais dois de referência: o Castelo de Sant’Angelo onde ainda não tinha entrado, e a galeria Borghese.

Palácio da galeria Borghese


Do primeiro, entre outras coisas, fica sobretudo a vista sobre Roma e o Vaticano… e o rio cheio como nunca o tinha vista, tanto vai chovendo por cá. Da galeria Borghese, entre tantas coisas é difícil escolher, mas é sempre fascinante a escultura do Bernini e a pintura de Caravaggio ou Raffaello…

Amanhã (hoje) vai também embora o Pe. Armindo… e penso que é o fim das visitas antes do Natal. Agora voltar a atacar no trabalho para ver se deixo pronto o que quero antes das férias!

Hoje já estive a ler sobre formação de catequistas, para preparar um trabalho, mas que tem já perspectivas de futuro. Entre os vários «tipos» de catequista, vou escolher o de adultos. Tentar pensar um projecto que passa não só pela formação de pessoas para desempenhar essa missão nas comunidades, mas de toda a envolvência que deverá estar por detrás para que o projecto possa ter alguma viabilidade.

E, para acabar, como tenho escrito pouco, e nem nos Domingos tenho deixado por cá nada, uma frase do livro de Isaías, que fazia parte da 1ª leitura de hoje, e que penso pode «resumir» aquilo que é o sentido do advento pela carga de esperança que tem, mesmo quando a vida parece um «deserto»:

Dizei aos corações conturbados: «Sede fortes, não temais! Eis que o vosso Deus vem para vingar-vos, trazendo a recompensa divina. Ele vem para salvar-nos» (Is 35, 4)


sexta-feira, dezembro 2





Ora cá está uma foto da mana que hoje está de parabéns por mais um anito… Um ano cheio de coisas bonitas, entre as quais este dia de Agosto!









Hoje foi também o dia da partida da família Duarte que esta semana me acompanhou numa passagem por Roma, Assis, Florença (as duas cidades num dia só, mesmo para ficar com o gosto para voltar…) e, para terminar o dia de hoje, Castelgandolfo com o lago de Albano ao fundo. E mais dois aniversários que festejámos: o da Sílvia e do pai.








E por falar em aniversários, também o recente do Tiago (sobrinho), que já vai nos 9 anos!

Apesar de ser um bocado esquecido para datas (nestas coisas dos aniversários vai-me valendo a agenda do telemóvel…), é sempre bom recordar que a festa faz parte da vida, não fosse ter sido sonhada pelo Senhor da Festa e da Vida…

quinta-feira, dezembro 1

Duas orações que me enviaram:

orações de um coração que ferve...

«alivia a minha dor, faze com que eu sinta que a Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na ternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague de mais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e do nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amén».
(Lispector, Clarice — Aprendizagem ou o livro dos prazeres. ed. Relógio d’ água)

De profundis

Deus meu eu vos espero, Deus vinde a mim. Deus, brotai no meu peito, eu não sou nada e a desgraça cai sobre minha cabeça e as palavras são mentirosas e eu continuo a sofrer, afinal o fio sobre a parede escura. Deus vinde a mim e não tenho alegria e minha vida é escura como a noite sem estrelas e Deus por que não existes dentro de mim? por que me fizeste separada de ti? Deus vinde a mim, eu não sou nada, eu sou menos que o pó e eu te espero todos os dias e todas as noites, ajudai-me, eu só tenho uma vida e essa vida escorre pelos meus dedos e encaminha-se para a morte serenamente e eu nada posso fazer e apenas assisto ao meu esgotamento em cada dia que passa, sou só no mundo, quem me quer não me conhece, quem me conhece me teme e eu sou pequena e pobre, não saberei que existi daqui a poucos anos, o que me resta para viver é pouco e o que me resta para viver no entanto continuará intocado e inútil, por que não te apiedas de mim? que não sou nada, dai-me o que preciso. Deus, dai-me o que preciso e não sei o que seja, minha desolação é funda como um poço e eu não me engano diante de mim e das pessoas, vinde a mim na desgraça e a desgraça é hoje, beijo teus pés e o pó de teus pés, quero me dissolver em lágrimas, das profundezas chamo por vós e nada responde e meu desespero é seco como as areias do deserto e minha perplexidade me sufoca, humilha-me, Deus, esse orgulho de viver me amordaça, eu não sou nada, das profundezas chamo por vós, das profundezas chamo por vós, das profundezas chamo por vós...»,
(Clarice Lispector — Perto do coração selvagem. ed. Relógio d’ água)