sexta-feira, abril 30

Estava para não escrever nada hoje. À tarde fui jogar futebol, a pensar que esta coisa do exercício físico faz sempre bem! A verdade é que apanhei uma bolada que me meteu um pulso meio inválido… Acho que vou cancelar definitivamente a minha carreira futebolística, para não acabar como o P.A.! Já repararam como faz falta uma mão em condições, mesmo que seja a esquerda?!...

Estava eu aqui de volta de minhas auto-lamentações quando resolvi ir ver o correio e encontro um texto que já recebi mais vezes (ou seria outro parecido com este?), mas que não deixa de ter a sua piada… a parte das minhocas nunca experimentei, tenho de dizer a verdade, mas às vezes, ao olhar para os miúdos de hoje, penso mesmo que estou velho…

Quantas “loucuras” fizemos nós!? E mesmo assim, jogar futebol, naqueles tempos, era mais seguro...




Tu pertences a esta Fantástica Geração?
Eu também sou deste tempo! Para quem já tem mais de 22 anos... faz pensar que até tivemos sorte... Olhando para trás, é difícil acreditar que estejamos vivos.

Nós viajávamos em carros sem cintos de segurança ou air bag.
Não tivemos nenhuma tampa à prova de crianças em frascos de remédios, portas,
ou armários e andávamos de bicicleta sem capacete, sem contar que pedíamos boleia.

Bebíamos água directamente da mangueira e não da garrafa. Gastámos horas a construir os nossos carrinhos de rolamentos para descer ladeira abaixo e só então descobríamos que nos tínhamos esquecido dos travões. Depois de colidir com algumas árvores, aprendemos a resolver o problema.

Saíamos de casa de manhã, brincávamos o dia inteiro, e só voltávamos quando se acendiam as luzes da rua. Ninguém nos podia localizar. Não havia telemóveis.

Nós partimos ossos e dentes, e não havia nenhuma lei para punir os culpados.
Eram acidentes. Ninguém para culpar, só a nós próprios. Tivemos brigas e esmurramos uns aos outros e aprendemos a superar isto. Comemos doces e bebemos refrigerantes mas não éramos obesos. Estávamos sempre ao ar livre, a correr e a brincar. Compartilhamos garrafas de refrigerante e ninguém morreu por causa disso.

Não tivemos Playstations, Nintendo 64, vídeo games, 99 canais a cabo, filmes em vídeo, surround sound, telemóveis, computadores ou Internet.

Nós tivemos amigos. Nós saíamos e íamos ter com eles. Íamos de bicicleta ou a pé até casa deles e batíamos à porta. Imaginem tal coisa! Sem pedir autorização aos pais, por nós mesmos! Lá fora, no mundo cruel! Sem nenhum responsável! Como conseguimos fazer isto?

Fizemos jogos com bastões e bolas de ténis e comemos minhocas e, embora nos tenham dito que aconteceria, nunca nos caíram os olhos ou as minhocas ficaram vivas na nossa barriga para sempre.

Nos jogos da escola, nem toda a gente fazia parte da equipa. Os que não fizeram, tiveram que aprender a lidar com a decepção... Alguns estudantes não eram tão inteligentes quanto os outros. Eles repetiam o ano! Que horror! Não inventavam testes extras.

Éramos responsáveis por nossas acções e arcávamos com as consequências. Não havia ninguém que pudesse resolver isso. A ideia de um pai protegendo-nos, se desrespeitássemos alguma lei, era inadmissível! Eles protegiam as leis! Imaginem!

A nossa geração produziu alguns dos melhores compradores de risco, criadores de soluções e inventores. Os últimos 50 anos foram uma explosão de inovações e novas ideias. Tivemos liberdade, fracasso, sucesso e responsabilidade, e aprendemos a lidar com isso.

Tu és um deles? PARABÉNS!

quinta-feira, abril 29

Hoje… já há uns tempos que não começava assim uma posta, com esta palavra magica: hoje! O problema é que quando escrevo é já amanhã… Ou seja: as minhas postas aparecem aqui com o dia seguinte, ou, por outras palavras, são referentes ao dia anterior… Tudo isto por causa dos maus hábitos de deitar tarde e de escrever depois da meia-noite. Por isso, quando digo hoje, não digo hoje, 29 de Abril, como aparece no cabeçalho (que por sinal é amanhã, e é dia de feira em Monte Redondo), mas digo hoje, que foi ontem, dia 28, que é quarta-feira… Sempre a questão do tempo, não aquele atmosférico, que por sinal hoje, que foi ontem, voltou a ser quase de verão, mas que, pelos vistos, amanhã, que é hoje, terá de novo chuva… a ver vamos!

Para quem gostar destas coisas de andar para trás no tempo aconselho a ler esta página do meu muito estimado Calvin:



Ou pode ler o «A Ilha do dia antes» de Umberto Eco, que é muito engraçada a este propósito!

Mas, voltando à tal palavra mágica:

Hoje, foi um dia mais ou menos banal. Aulas e acabar o tal trabalho que tinha deixado de ontem. E não sei como, mas foi um dia cheio de gente: mail’s enviados e recebidos, conversação… gente que já não «lia» há tanto tempo! É verdade, quando não dá para «ver» ou para «ouvir», o «ler» é o meu espaço de encontro…

quarta-feira, abril 28



Depois do exagero de sangue do Volume 1, Quitin Tarentino poupa-nos um bocadito neste Volume 2 do Kill Bill. Quem diria? afinal é uma história de amor! Mas não vou contar a história... Primeiro porque pode ser que alguém queira ir ver, e nestas coisas o pior é saber o fim. Segundo porque aquele é daqueles filmes que só visto! E vale a pena ver. A mistura de estilos, o real no imaginário, a banda sonora inquietante, as cenas impensáveis, os planos imprevistos, a surpresa… continua lá tudo, ao jeito do Quintin Tarentino! Aconselho… Mas com cuidado a quem sofra de claustrofobia: é que a cena em que a Uma Thurman é enterrada viva parece que nos leva com ela dentro do caixão… Para quem goste do estilo é mesmo a não perder!

E pronto, lá se foi a tarde com o filme… Mas a noite não correu muito mal. Apesar de não ter acabado o trabalho que estou a fazer, o esquema está pronto e as ideias orientadas. Amanhã tenho mesmo de o acabar que é para entregar na quinta!

terça-feira, abril 27


(Caminho - Ivan Cavalcanti)

Ainda a propósito do dia de ontem, deixo aqui um texto, já clássico para estas ocasiões, mas que me faz sempre pensar e repensar-me… O original, penso que é de autor anónimo medieval. Mas foi redescoberto por Bruno Forte, um teólogo italiano, no livro Introdução aos sacramentos.

Um padre deve ser simultaneamente pequeno e grande,
nobre de espírito, como que de sangue real,
simples e natural, como de origem camponesa...

Herói na conquista de si mesmo,
um homem que lutou com Deus,
uma fonte de santificação,
um pecador a quem Deus perdoou...

Senhor dos seus desejos,
servo dos tímidos e dos fracos,
que não se ajoelha diante dos poderosos,
mas que se curva diante dos pobres!

Discípulo do seu Senhor,
chefe do seu rebanho,
um mendigo com as mãos amplamente abertas,
portador de numerosos dons...

Um homem no campo de batalha,
uma mãe para confortar os doentes,
com a sabedoria da idade e a confiança de uma criança,
voltado para o alto,
mas com os pés bem assentes no chão...

Feito para a alegria,
mas perito no sofrimento,
afastado de toda a inveja,
de vistas largas, largas...

Que fala com franqueza,
um amigo da paz,
inimigo da preguiça,
fiel para sempre...

Tão diferente de mim!

segunda-feira, abril 26

Como previa, hoje o dia foi pouco “produtivo”… a manhã foi pelo Vaticano: celebração de beatificações, entres as quais uma portuguesa, uma tal de Alexandrina… sinceramente nunca tinha ouvido falar muito dela… Mas achei que seria uma boa maneira de celebrar os meus 5 anos de padre: estar na praça de São Pedro numa celebração papal. Depois mete-se o almoço prolongado, e a tarde pouco rendeu. Um jantar para comemorar a data e pouco mais tempo restou. Mas foi um dia bom. E, apesar de ser um pouco “estranho” esta forma de celebrar os cincos anos de padre, não deixou de ser um dia significativo.

A propósito, aqui, em Itália, o 25 de Abril também é feriado por ser um dia de libertação, o dia em que a Itália, em 1945, se uniu aos aliados na segunda guerra mundial, e se deu a libertação de Roma pelos forças dos Estados Unidos…

domingo, abril 25

Ao fim de uma semana por cá, dá-me a sensação que pouco fiz! Talvez seja do choque, da diferença de ambiente, ou de temperatura, da humidade no ar, sei lá… tenho de arranjar uma desculpa para esta minha falta de vontade de me agarrar aos livros… Qualquer desculpa é boa para me “escapar”… desde que seja para “sair”, estou sempre pronto… Talvez seja de saber que em Leiria está a semana académica… Além de puxar um bocadito pela cabeça para fazer um trabalhito e de ler metade de um livro, e tirando também as aulas, nem sei onde passei o resto do tempo desta semana… É engraçada esta relação com o tempo…

Mas pronto! Agora tem de ser a sério! Vai começar esta “recta final” e tenho de saber gerir bem os meus dias! Se bem que o dia de amanhã já se começa a revelar pouco produtivo… também… é Domingo… não é dia de trabalhar… a ver vamos!

sexta-feira, abril 23

Antes de voltar a falar de Roma, apenas mais uma posta sobre Taizè… Há muitas coisas que marcam naquela colina. Não sei o que mais marcou a cada um dos meus «companheiros de viagem», mas o que sempre me ficou das minhas passagens anteriores, e também desta, foi a simplicidade e, ao mesmo tempo, a sobriedade e beleza, na proposta dos tempos/espaços de oração… O canto, a Palavra de Deus e o silêncio. O espaço de encontro com Deus, de confronto com a sua Palavra, o tempo da gratuidade no silêncio, para saborear por dentro a Palavra, para actualizar a sua escuta, para partilhar o que nos vai na alma, e de encontro com os outros pelo canto, para louvar, pedir, agradecer…

quarta-feira, abril 21

Ontem estava sem net à noite… Por isso cá vai agora aquilo que prometi: o que se faz enquanto se está por Taizè, num dia normal de actividade.

Os sinos começam a tocar pelas 8.20h. A essa hora já convém estar na igreja se se quiser ter um lugar lá para a frente, mas a oração da manhã só começa passados uns 10 ou 15 minutos. A igreja é um espaço enorme, sem bancos, alcatifado, para que todos se possam sentar no chão. Um conjunto de panos cor de laranja, que descem como línguas de fogo, vem incendiar as velas que se encontram dentro de umas composições de tijolos. De um lado a cruz, do outro o sacrário e um ícone de Maria. Outros ícones se espalhem ao longo da igreja. Pelo centro, o espaço reservado por pequenos arbustos para os irmãos da comunidade, que traz o lugar da Palavra para o centro da igreja.



A oração da manhã dura cerca de uma hora. Segue-se a fila do pequeno-almoço. Há sempre fila para as refeições… o que não admira dada a quantidade de gente que por lá está. Na taça vermelha o cacau, chá ou café. Pão, manteiga, uma barra de chocolate. Como não é preciso senha para o pequeno-almoço pode-se sempre repetir caso a fome aperte…

Pelas 10.30h começam as actividades. Quem tem a introdução bíblica pela manhã vai escutar o que um dos irmãos tem para «revelar» sobre um dos livros da Bíblia, e depois, em pequenos grupos, reflectir em conjunto sobre o que se ouviu. É um tempo importante, este dos grupos de reflexão: espaço para o encontro com outras pessoas, outras ideias, outras igrejas, outras perspectivas de acção… Este espaço repete-se à tarde para quem trabalha de manhã. Os trabalhos são os básicos para assegurar a vida na colina e, feitos em equipa, e com o espírito com que são feitos, atém ganham outra vida: desde a limpeza das casas de banho, camaratas, salas e dos outros espaços da «colina», até à preparação e distribuição da comida, as lavagens dos pratos e dos tachos, a participação no grupo coral que anima as orações durante a semana, a colaboração no atendimento da loja da comunidade, etc…

Às 12.20h começa o sino a tocar de novo: é a oração do final da manhã e, de novo, todos se reúnem na igreja. Pelas 13.00h começa a distribuição do almoço e um algum tempo livre para ir até ao Oyak tomar um café. Às 15.30h é hora de recomeçar as actividades normais: os que estiveram no trabalhos durante a manhã terão agora o espaço da reflexão bíblica, e vice é versa, até às 17.00h, hora do lanche com o sabor mais característico de Taizè: o chá das 5!



Até à hora do jantar, pelas 19.30h, há diversas propostas de actividades, que variam durante os dias, e de participação livre. São pequenos ateliers para aprofundar alguns aspectos da vida da comunidade, para apreciar a arte de pintores, fotógrafos, músicos, para partilhar alguns conhecimentos…

O último momento de oração comunitária do dia é às 20.30h. Ao toque dos sinos todos voltam para a igreja para mais uma hora de oração. Sobre a oração falo mais logo… O resto da noite pode ser passado por ali, mas por norma reúne-se muita gente na zona do Oyak onde se pode comer e beber qualquer coisa, mas sobretudo onde se está para conversar, para cantar, para dançar. Não é preciso nenhum programa especial: as coisas vão surgindo naturalmente, e cada grupo/país vai tentando ensinar alguma coisa aos outros.

23.00h é a hora de começar a recolher. Começa o tempo de silêncio, e entram em acção os «go to bed», uns simpáticos amigos cujo trabalho durante essa semana é o de ajudar a não haver exageros que prejudiquem a estadia de todos, e tentar que todos descansem o suficiente para no outro dia se levantarem pela manhã.

terça-feira, abril 20

Recomeça a rotina das aulas. Passei de novo a manhã a ouvir italiano, para reabituar o ouvido já um pouco esquecido pela falta de prática. Apesar de estar convencido que esta é uma língua com pouca utilidade para além das fronteiras deste país, ainda me deu um certo jeito por Taizè.

A semana em Taizè foi um tempo especial para mim: depois desta mudança de vida, que me tornou de novo um estudante, foi bom estar num ambiente como aquele, com pessoas como aquelas. Foi bom voltar a estar numa actividade com pessoal de Leiria, sentir aquela vida, aquela amizade com «os meus»… Foi bom ter a oportunidade de partilhar um pouco do que se vai sentido, pensando, vivendo… ter este espaço de «cumplicidade», como lhe chama o Abílio. Sendo a semana santa, com toda a «densidade» que lhe é própria, enriqueceu ainda mais este tempo. Pouco a pouco, acompanhar e aprofundar o espaço de compreensão e de relação com este Mistério de um Deus que dá a sua vida… E depois aquelas noites longas, na igreja, a confessar ou simplesmente a conversar (é verdade, depois de tantos meses é bom poder voltar a dizer em nome de Deus «eu te absolvo»…), ou aqueles momentos longos de silêncio, de escuta da Palavra, de canto, de oração…

Das sensações mais engraçadas de Taizè é o perceber que no meio de toda aquela diversidade, real e aparente (e na «aparência» há mesmo muita diversidade…) há, no fundo, algo comum que todos, de uma forma ou doutra, buscam na mesma pessoa de Jesus Cristo. E como se vai partilhando as descobertas, as certezas e as dúvidas… E como isso transparece na vida «simples» que por lá se vive, na predisposição para o encontro e para a partilha, na disponibilidade para o serviço.

Mas por agora já chega. Fica esta visão geral: amanhã conto o que se faz por lá…

segunda-feira, abril 19

Queria escrever mas fogem-me as palavras na «confusão» das ideias e no cansaço… Foram uns dias muito intensos, estes vividos por casa, já para não falar daqueles de Taizè. Talvez amanhã, quando acordar de novo no meu quarto de Roma, tudo me pareça um sonho. Talvez amanhã, quando me levantar pela manhã, me convença que estou mesmo aqui de novo, em Roma, de volta dos meus livros, aulas e trabalhos, e que já só falta pouco mais de dois meses para terminar o primeiro de três anos por cá… Agora apenas uma certeza: cheguei e o meu carro não funciona, por isso amanhã terei de o tentar arranjar!

quarta-feira, abril 14

Eis-me de volta! Peço desculpa por esta ausência... até eu próprio fiquei admirado comigo mesmo, de ter conseguido passar tanto tempo sem este mundo virtual...

Tantas coisas já se passaram desde que parti de Roma, a minha última «posta»... O reencontro da família e dos amigos, a viagem até Taizè, a semana santa «intensa» de Taizè, a Páscoa, o regresso a casa... Foi (ou tem sido...) tudo tão «cheio» que nem sei bem como o dizer... Acho que vou ter que o ir digerindo ainda e contando aos poucos... Hoje queria mesmo vir até aqui para marcar presença.

Fica apenas este primeiro registo de um lugar que ultrapassa o espaço daquela pequena colina onde cada um parece ser capaz de se superar a si mesmo e onde o encontro connosco próprios, com os outros, com Deus se faz com a simplicidade e a beleza das melodias que a invadem. Um daqueles lugares que nos renova a esperança, mesmo quando se sabe que é preciso voltar à terra de uma realidade diversa. Onde a verdade de cada um se confunde mais com os seus sonhos, e (às vezes) mesmo com os sonhos de Deus. Uma terra tantas vezes regada de lágrimas, que podem ser de/por muita coisa, mas sempre de alguém... Mas sempre, sem dúvida, um lugar de relação ou, se se quiser, de oração. Foi muito bom voltar, agora como padre.

Mas por agora chega... não sei quando voltarei aqui... se não for antes, até Roma de novo!

quinta-feira, abril 1

Entretanto estou de partida. Esta coisa de ter que estar duas horas antes do voo no aeroporto é contra os meus princípios, eu que gosto de chegar em cima da hora… mas como é por uma boa razão vou fazer por não me atrasar!

Se tudo correr bem, esta noite ainda estarei a beber uma cervejita algures por Leiria! E com a partida para Taizè, no sábado, terei, certamente, poucas oportunidades para «navegar» por aqui antes da Páscoa. Por isso, além de ficar já com a desculpa dada para uma ausência de postas, ficam sobretudo os votos de uma verdadeira «passagem» da «morte», pela «cruz», para a «Vida». Vai começar esta «semana grande» para viver, lado a lado, com Jesus, a maior história do Amor de sempre…