terça-feira, janeiro 31

Fazer um intervalo no «Reino» que o texto do próximo Domingo apresenta um quadro de curas (a sogra de Simão, e muitos outros que se apresentaram depois a Jesus…) e dá para avançar neste olhar sobre a acção de Jesus para com as pessoas com quem se cruzava.

E por falar em curas, hoje (logo hoje…) deu-me para acordar a começar a «chocar» uma constipação… E lá andei o dia todo de pingo no nariz, enquanto acabava de preparar mais um exame. Amanhã é o de Antropologia e catequese.

segunda-feira, janeiro 30

Aqui há dias deixei por «aqui» um assunto pendente: a questão do «Reino de Deus»… Enfim, há sempre a desculpa de estar em época de exames, de ter feito um na sexta-feira passada (correu bem) e de ter dois para acabar de preparar para esta semana.

Mas hoje queria voltar um bocadito ao assunto. Para começar a desenvolver o tema. É que o Evangelho deste Domingo oferece uma boa oportunidade para falar sobre um dos possíveis pontos de partida para perceber o que Jesus pensava do «Reino».

De facto, não se encontram grandes explicações da parte de Jesus sobre o assunto. Por isso, para saber, é preciso sobretudo procurar nos gestos de Jesus: aquilo que ele fazia. Para facilitar, podemos estruturar as acções de Jesus em dois grandes blocos: as acções de Jesus em favor dos indivíduos; e as intervenções em âmbito social.

O episódio relatado no texto deste Domingo está no primeiro bloco. Na sua actividade em favor das pessoas, individualmente consideradas, há sobretudo três tipos de intervenção: as curas de doenças corporais, os exorcismos, e o perdão dos pecados.

Para perceber o significado de exorcismos como o do Evangelho de hoje, e que se encontram muito documentados em todos os quatro Evangelhos, é preciso ter presente que o povo de Israel, como em geral os povos antigos, «atribuíam à acção de maus espíritos algumas acções perturbantes que se verificavam em determinadas pessoas. Pensavam que certas formas de doença, sobretudo aquelas a que hoje se chamam funcionais, eram efeito da presença de tais espíritos nessas pessoas. O que fazia parte de uma visão mais ampla das coisas, segundo a qual o mundo era como que o campo de batalha no qual combatiam, de uma parte Deus, Espírito dador de vida, e da outra os espíritos maus, chamados “impuros”, geradores de morte. A intensa actividade desenvolvida por Jesus como exorcista adquire sentido dentro deste quadro de referências. Ele aparece como “o mais forte” que vence os espíritos impuros, inimigos do homem, e lhes tira as armas (Lc 11, 22)» (Luís Gallo).

Neste texto, como noutros que apresentam exorcismos, Jesus aparece como o vencedor sobre os maus espíritos. Mas sobretudo, como aquele que restitui aos homens e mulheres com quem se foi encontrando, a sua total dignidade como pessoas. E mostra em que consiste o «Reino»: a soberania de Deus está na expulsão daquilo que não permite ao homem uma vida normal e sã.

E com esta leitura, não será difícil de fazer já uma transposição para o que poderá significar hoje (na época dos anti-depressivos…) uma tal soberania, e uma tal libertação… Mas para hoje chega, que o texto já vai longo…


Representação de uma cura de Jesus
Miniatura procedente do Livro das Horas do Duque de Berry
Musée Condé, Chantilly (Fotografia Giraudon, Paris)

Jesus chegou a Cafarnaum e quando, no sábado seguinte, entrou na sinagoga e começou a ensinar, todos se maravilhavam com a sua doutrina, porque os ensinava com autoridade e não como os escribas. Encontrava-se na sinagoga um homem com um espírito impuro, que começou a gritar: «Que tens Tu a ver connosco, Jesus Nazareno? Vieste para nos perder? Sei quem Tu és: o Santo de Deus». Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem». O espírito impuro, agitando-o violentamente, soltou um forte grito e saiu dele. Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros: «Que vem a ser isto? Uma nova doutrina, com tal autoridade, que até manda nos espíritos impuros e eles obedecem-Lhe!» E logo a fama de Jesus se divulgou por toda a parte, em toda a região da Galileia.

(Mc 1,21-28)



quarta-feira, janeiro 25

Cravaggio, Conversão de São Paulo
Igreja de Santa Maria del Popolo, Roma

Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: «Saulo, Saulo, porque me persegues?» Ele perguntou: «Quem és Tu, Senhor?» Respondeu: «Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Ergue-te, entra na cidade e dir-te-ão o que tens a fazer.»

(Act 9, 4-5)

25 de Janeiro – Festa da conversão de São Paulo.
Hoje foi também publicada a primeira encíclica do Papa Bento XVI, Deus é amor.

terça-feira, janeiro 24

El Greco, Jesus no jardim Getsemani


Uma pergunta mais que legítima diante do texto que deixei «aqui» ontem: afinal, o que é que Jesus entendia ou queria dizer com a expressão «reino de Deus»? Até porque, para além de umas parábolas, não se sabe de nenhuma explicação conceptual de Jesus sobre o assunto…

Por outro lado… como é que esta realidade de um «reino de Deus» se apresenta hoje aos nossos olhos? Certamente que não é nenhuma novidade (a expressão), mas em que pensamos quando a pensamos?

Isto porque me passou pela ideia escrever «aqui» sobre o assunto…

segunda-feira, janeiro 23

Às vezes, quando olhamos para o conjunto da nossa vida, pode ser difícil encontrar algum «centro» que unifique tudo quanto somos e fazemos… algo que seja «o» objectivo, que determine o sentido que damos a cada momento, que seja a «chave» de cada opção…

Não era assim com Jesus. De quanto nos é possível conhecer nos Evangelhos, vemos alguém que se centra num objectivo muito preciso, que faz da sua uma existência bem ancorada que lhe dá estabilidade e profundidade: anunciar, e tornar já presente, o «reino de Deus». «Reino de Deus» ou, numa linguagem mais própria do Evangelho de João, uma Vida verdadeira e em abundância: «Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância» (Jo 10, 10).

E porque era Vida que transparecia da sua vida, da sua pessoa e da sua mensagem, não admira que se tornasse fascinante… Um fascínio quase irresistível que certamente potenciava também a generosidade daqueles que ele chamava para o seguir, e que se dispunham a «deixar tudo»…

Talvez o que é preciso consciencializar cada vez mais… também neste dia de oração pela unidade dos cristãos: um ponto de partida comum na redescoberta do «rosto fascinante» de Jesus que chama; e um objectivo comum: continuar a anunciar e a tornar já presente o «reino de Deus» a favor da Vida em abundância…

Duccio Da Boninsegna, O chamamento de Pedro e André
National Gallery of Art, Washington

Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a proclamar o Evangelho de Deus, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho». Caminhando junto ao mar da Galileia, viu Simão e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores. Disse-lhes Jesus: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens». Eles deixaram logo as redes e seguiram-n’O. Um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, que estavam no barco a consertar as redes; e chamou-os. Eles deixaram logo seu pai Zebedeu no barco com os assalariados e seguiram Jesus.

(Mc 1,14-20)

quinta-feira, janeiro 19

Exames marcados! Mesmo para serem feitos o mais depressa possível: 27 de Janeiro, 1 e 3de Fevereiro. Depois são quase duas semanas de intervalo para dedicar a outros estudos que estão atrasados: a tese…

No papel já está o programa todo até ao recomeço das aulas, a 15 de Fevereiro, com o que estudar em cada dia… Tentar ser organizado!

Mas como a vida não é só estudar, já hoje marquei um fim-de-semana na Sardenha, para finais de Março, com voo directo a Alghero. E, se as coisas estiverem a correr bem, pode ser que ainda dê para mais alguma saída… A ver vamos! Mas faz sempre bem meter uma hipótese de «auto-recompensa» para estimular…

Alghero… para depois dos exames…

quarta-feira, janeiro 18

Caravaggio, Narciso
Galeria Nacional de Arte Antiga, Roma

Lembrei-me do quadro do Caravaggio a propósito de um reflexão que fiz a partir de uma breve frase de Gevaert (pois, lá continuei todo o dia com a Antropologia e catequese…). A propósito de «falsos absolutos», entre outros, fala da «obsessão do conhecimento de si mesmo, com a psicologia como religião».

Claro que não tenho nada contra a psicologia (e parece-me que o autor também não), senão quando ela o deixa de ser para se tornar uma «religião», e não enquanto ciência, mas como «utilização-individual-e-para-próprio-consumo» que dela se pode fazer… E, verdade seja dita, que por vezes nos «entretemos» demasiado com a velha máxima do «conhece-te a ti mesmo», esquecendo-nos que só nos conhecemos de verdade na relação: com os outros, com o mundo que nos envolve, e fundamentalmente com Deus que nos revela a nós próprios… Só no Amor nos conhecemos de verdade…

Não é por nada que, na Bíblia, o primeiro e fundamental problema humano é o da relação com Deus: «Na óptica cristã, o primeiro e mais fundamental dos problemas do homem é a relação de Deus com o homem e do homem com Deus. Não são portanto, segundo uma praxis difusa, as experiências subjectivas, quotidianas, pedagógicas, psicológicas, relacionais, horizontais… dos indivíduos. Não é sequer o problema do mal, do sofrimento e da morte, que apenas na obra de Jesus Cristo podem ser integradas numa dimensão de esperança e de vida eterna» (Gevaert).

terça-feira, janeiro 17

Última semana de aulas. Não que tenha muitas, porque são poucas as cadeiras este semestre… Mas é sinal que estão para breve os exames (mais uma vez…) e que se está a acabar mais um semestre… E é nestas circunstâncias que se vê o tempo a apertar mais!

Comecei já a preparar um dos exames: Antropologia e catequese. Logo no princípio, levanta-se uma questão engraçada (entre muitas outras neste contexto do diálogo da catequese com os fundamentais problemas do homem…), que é a questão da «verdade» e da «crise da verdade».

Relacionando-a com o «relativismo das religiões», e depois de muitas outras considerações, o autor (J. Gevaert) afirma que esse fenómeno está «associado à ideia segundo a qual qualquer verdade absoluta estaria errada e conduziria a violações da humanidade. A mesma ideia se estende também à unicidade de Jesus Cristo (enquanto verdade absoluta e enquanto única via de salvação querida por Deus). Afirmar que uma verdade vem de Deus, é revelada por Deus, é para muita gente um sinal de intolerância e de grande presunção. Deste modo surgem como inacessíveis as duas colunas do cristianismo: a revelação e a fé».

Porque, para além da «verdade» de cada um, há a «Verdade» em si mesma… E no meio de todos os saudáveis ou menos saudáveis «relativismos», há um Absoluto que se vem dar a conhecer como «Caminho, Verdade e Vida»…

segunda-feira, janeiro 16

«Vinde ver»

É das coisas mais simples de dizer, mas também das mais comprometedoras: convidar alguém para «estar». Correr o risco de conhecer e de se dar a conhecer. É o espaço dos «encontros»… e o que nos marca e transforma mais que o encontro com/de alguém?...

Neste Domingo há histórias de encontros. De gente que se quer encontrar a si mesmo, e por isso arrisca seguir alguém… e que sai de tal forma transformado desse encontro que não pode deixar de partilhar o novo amigo…

Há alguns anos, escolhi este texto do Evangelho de João como referência para o dia da ordenação… Para ter presente que é sempre preciso voltar à casa de Jesus: perceber que Ele passa (de tantas e diferentes formas), que há sempre alguém (como João Baptista) que nos vai ajudando a discernir a sua presença, que o convite é para criar uma relação familiar (estar em sua «casa»), e que daí nunca se sai igual, mas transformado e com vontade de O partilhar…

«Vinde ver»… É correr o risco do encontro… mas a vida é demasiado importante para a encerrar em calculismos, e vale a pena arriscá-la no espaço do «encontro» com o rosto que nos revela quem/porque/para que somos…


Caravaggio, Chamamento de São Mateus,
Igreja de São Luís dos Franceses – Roma
(pormenor do rosto de Jesus)



Naquele tempo, estava João Baptista com dois dos seus discípulos e, vendo Jesus que passava, disse: «Eis o Cordeiro de Deus». Os dois discípulos ouviram-no dizer aquelas palavras e seguiram Jesus. Entretanto, Jesus voltou-Se; e, ao ver que O seguiam, disse-lhes: «Que procurais?» Eles responderam: «Rabi – que quer dizer ‘Mestre’ – onde moras?» Disse-lhes Jesus: «Vinde ver». Eles foram ver onde morava e ficaram com Ele nesse dia. Era por volta das quatro horas da tarde. André, irmão de Simão Pedro, foi um dos que ouviram João e seguiram Jesus. Foi procurar primeiro seu irmão Simão e disse-lhe:«Encontrámos o Messias» - que quer dizer ‘Cristo’ –; e levou-o a Jesus. Fitando os olhos nele, Jesus disse-lhe: «Tu és Simão, filho de João. Chamar-te-ás Cefas» – que quer dizer ‘Pedro’.

(Jo 1,35-42)

sábado, janeiro 14


Hoje fui jantar fora. Encontrei-me com um rapaz marroquino, de Casablanca. Conheci-o nas secretárias da Universidade Gregoriana quando fazíamos o curso intensivo de italiano. Muçulmano, estava em Roma para estudar política. Fartou-se… Quatro meses depois de ter chegado mudou-se para Marrocos para estudar medicina. Entretanto, numa ou outra vez que nos encontrámos no Messenger, soube que se tinha casado. Hoje esteve a contar-me que o casamento não estava a correr muito bem… e dizia com alguma tristeza que o Estado tinha proibido a poligamia…

Connosco estava um outro colega das mesmas secretárias. Padre, da Guatemala. Tem estado por Roma a estudar, ao mesmo tempo que colabora numa paróquia. Está a terminar o curso para voltar à diocese dele, colaborar na formação no Seminário e possivelmente em alguma paróquia.

É uma das coisas interessantes de Roma. Esta possibilidade de encontrar por aqui gente um pouco de todo o lado... às vezes com «esquemas mentais» tão diferentes do meus... E sempre se vai ficando com alguns contactos espalhados um pouco por todo o mundo… Quem sabe, algum dia nos poderemos encontrar num outro qualquer continente deste mundo…

sexta-feira, janeiro 13



Pára de chorar
E dizer que nunca mais vais ser feliz
Não há ninguém a conspirar
Para fazer destinos negros de raiz
Pára de chorar
Não ligues a quem diz
Que há nos astros o poder
De marcar alguém
Só por prazer
Por isso pára de chorar
Carrega no batom
Abusa no verniz
Põe os pontos nos Is
Nem Deus tem o dom
De escolher quem vai ser feliz

Carlos Tê / Rui Veloso: Canção de alterne, do álbum «A espuma das canções»

Foi uma das prendas de Natal. Só comecei a ouvir aqui, excepto esta canção em particular que está muito a rodar pelas rádios portuguesas. Rui Veloso com uma sonoridade algo diferente… ainda não sei se me habituei à ideia…

Mas esta letra tem algumas coisas interessantes… porque, apesar de tudo, e da liberdade ser um dos valores mais apreciados actualmente, é também um dos mais «temidos»… e quando é preciso fazer opções, ou explicar situações, nada que um qualquer «destino» não resolva, seja ele de um astro ou de um qualquer deus…

«Nem Deus tem o dom / De escolher quem vai ser feliz»… A eterna questão da liberdade e da responsabilidade…

quinta-feira, janeiro 12


Tenho estado de volta de um trabalho sobre o método do “laboratório”… Entre as várias referências que vão aparecendo, não podia deixar de estar o discurso do Papa João Paulo II em Tor Vergata, no Sábado 19 de Agosto de 2000, perante uma assembleia de milhares e milhares de jovens, entre os quais estava também eu, com cerca de outros 300 jovens da diocese de Leiria-Fátima… Uma grande aventura, essa…!!!

Foi nessa noite que o Papa falou da importância do “laboratório da fé”, o «lugar» para nos deixarmos encontrar por Deus, porque «primeiro, está a graça da revelação: uma íntima e inefável doação de Deus ao homem. Vem depois o apelo a dar uma resposta. Por fim, aparece a resposta do homem, uma resposta que doravante há-de dar sentido e configurar toda a sua vida. Eis o que é a fé! É a resposta racional e livre do homem à palavra do Deus vivo»…

O texto integral vale sempre a pena ser relido… Mas gostava apenas de sublinhar esta última frase que citei: «Eis o que é a fé! É a resposta racional e livre do homem à palavra do Deus vivo».

Como resposta, é sempre um «segundo acto»… a um Deus que nos busca como «primeiro acto» e apela à resposta… onde o «laboratório da fé» não é senão o espaço para perceber que o encontro se dá de facto… mesmo quando não «sentimos» que Ele está aí, mesmo ao nosso lado…

quarta-feira, janeiro 11

Praça de São Pedro, 10 de Janeiro de 2006


Depois de jantar, apesar do frio, resolvi ir dar uma volta pela cidade. Meti a máquina fotográfica no bolso: já pensava passar pela praça de São Pedro para ver o presépio que ficou pronto pouco depois de ter começado as férias. A temperatura ambiente obrigou-me a usar todos os «recursos anti-frio» do casaco… E lá fui de capucho apertado e mãos nos bolsos, num passo quase apressado!

Roma está quase deserta… e, às vezes, é preciso sentir o «deserto» para se perceber o valor do «movimento» animado da cidade… Tal como é preciso passar pela «noite» para ver a «estrela» que brilha no presépio…

terça-feira, janeiro 10

De regresso a Roma… Acabaram as férias, como sempre muito curtas (nunca dá para fazer tudo o que se queria – e nesta parte a ideia de levar algum trabalho resulta sempre mal para mim – nem para se encontrar com toda a gente…), mas “restabelecido” (espero) para mais uns tempos por cá!

Agora é voltar a organizar-me para a vida de estudante… Duas semanas para acabar o semestre e começar em época de exames. Mas tudo se faz!