A verdade é que a maioria das pessoas que se cruzam comigo durante o dia acaba por passar de alguma forma indiferente… Muito poucas, tendo em conta o universo total das pessoas com quem me cruzo, têm a capacidade de me «interromper» para que «aconteça» um encontro… Muito poucas se tornam «significativas»…
O texto do evangelho de hoje fez-me pensar nisto… entre outras coisas: na capacidade que Jesus mostra para tornar «significativo» cada encontro, mesmo quando ele parece destinado à insignificância. Uma mulher, e uma mulher samaritana, e uma mulher samaritana pecadora… Não bastava ser mulher (o que já era muito mau naquele contexto cultural), é também samaritana (piorou, dado que os judeus e os samaritanos não eram propriamente dos povos mais amigos…) e pecadora (não só rejeitada pelos homens, mas também pelo próprio Deus, segundo as concepções vigentes…). Bem, digamos que é do piorzinho que se poderia encontrar pela frente. E contra tudo o que era de esperar, Jesus mete conversa com ela. Até ela se admirou: «Como é que tu, sendo judeu, me pedes de beber, sendo eu samaritana?»… E não só mete conversa, como faz «acontecer um encontro» que é capaz de «interromper» a história daquela mulher para a tornar alguém novo.
Das muitas coisas que este texto nos pode fazer entender, esta é talvez a primeira: não há ninguém que Jesus não procure para se «encontrar» com ele, mesmo que esse possa ser o pior ser humano que imaginemos… Nunca seremos tão maus que Deus desista de nós! A segunda é que desse encontro se saciam mesmo as «sedes» que desconhecemos, mas que são as mais profundas em nós. A terceira, para acabar, que se «conhecêssemos o dom de Deus», talvez provocássemos mais este «encontro» com Ele…
Vale a pena ler e reler o texto de João…
Naquele tempo, chegou Jesus a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, junto da propriedade que Jacob tinha dado a seu filho José, onde estava a fonte de Jacob. Jesus, cansado da caminhada, sentou Se à beira do poço. Era por volta do meio-dia. Veio uma mulher da Samaria para tirar água.
Disse-lhe Jesus: «Dá-Me de beber». Os discípulos tinham ido à cidade comprar alimentos.
Respondeu-Lhe a samaritana: «Como é que Tu, sendo judeu, me pedes de beber, sendo eu samaritana?» De facto, os judeus não se dão com os samaritanos.
Disse-lhe Jesus: «Se conhecesses o dom de Deus e quem é Aquele que te diz: ‘Dá-Me de beber’, tu é que Lhe pedirias e Ele te daria água viva».
Respondeu-Lhe a mulher: «Senhor, Tu nem sequer tens um balde, e o poço é fundo: donde Te vem a água viva? Serás Tu maior do que o nosso pai Jacob, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, com os seus filhos a os seus rebanhos?»
Disse-Lhe Jesus: «Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede. Mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der tornar-se-á nele uma nascente que jorra para a vida eterna».
«Senhor, suplicou a mulher, dá-me dessa água, para que eu não sinta mais sede e não tenha de vir aqui buscá-la. Vejo que és profeta. Os nossos pais adoraram neste monte e vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar».
Disse lhe Jesus: «Mulher, podes acreditar em Mim: Vai chegar a hora em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vai chegar a hora – e já chegou – em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, pois são esses os adoradores que o Pai deseja. Deus é espírito e os seus adoradores devem adorá-l’O em espírito e verdade».
Disse-Lhe a mulher: «Eu sei que há-de vir o Messias, isto é, Aquele que chamam Cristo. Quando vier há-de anunciar-nos todas as coisas».
Respondeu-lhe Jesus: «Sou Eu, que estou a falar contigo».
Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram em Jesus, por causa da palavra da mulher. Quando os samaritanos vieram ao encontro de Jesus, pediram-Lhe que ficasse com eles. E ficou lá dois dias.
Ao ouvi-l’O, muitos acreditaram e diziam à mulher: «Já não é por causa das tuas palavras que acreditamos. Nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é realmente o Salvador do mundo».
(Jo 4,5-42)