Simples e conciso. Ao estilo de Marcos. Mas está lá tudo…
- o Espírito que impele Jesus ao deserto, o mesmo Espírito que 2 versículos antes tinha descido sobre Ele em forma de pomba, no baptismo, e que, junto com a voz paterna «Tu és o meu Filho amado», confirmam a identidade de Jesus;
- o deserto, com toda a sua densidade de lugar de encontro com Deus e de confirmação de uma aliança entre Deus e a Humanidade que, no número 40 ganha a força de ser experimentado em toda a sua densidade; o deserto que é o lugar para onde Deus quer conduzir o seu povo para, como a uma esposa, a seduzir e lhe falar ao coração (cf. Oseias 2, 16);
- Satanás, o tentador, que não está presente apenas num momento concreto, mas no prolongar da vida que se vive no deserto, como este caminho de provação a caminho da Terra Prometida;
- os animais selvagens, com quem vivia Jesus, sinal de um tempo novo, a Nova Aliança, o tempo messiânico prometido onde o menino pode meter a mão na cova da víbora (cf. Isaías 9, 11), um restabelecer do paraíso na figura de um novo Adão (Jesus);
- os Anjos, que serviam Jesus, sinal da presença de Deus, essa presença intensa daqueles que, por definição, são os mensageiros divinos, que trazem a novidade constante de Deus, e que servem Jesus nessa relação de intimidade com o Pai, para que «não tropece em alguma pedra», e ultrapasse todos os perigos (cf. Salmo 91, 11-13).
Se tivermos em conta que a grande pergunta que preside a todo o Evangelho de Marcos é a da identidade de Jesus («Quem dizem os homens que Eu sou? (…) E vós, quem dizeis que Eu sou?», Mc 8, 27.29), este texto, quase inaugural, depois do Baptismo, é uma confirmação desta identidade afirmada anteriormente: «Tu és o meu Filho amado». Todos os sinais presentes falam de algo de novo que, em Jesus, vai começar, e que envolve toda a humanidade que (como recordam as outras leituras deste 1º Domingo da Quaresma), pelo Baptismo, se fazem participantes desta novidade divina: «Esta água é figura do Baptismo que agora vos salva, que não é uma purificação da imundície corporal, mas o compromisso para com Deus de uma boa consciência» (1 Pedro 3, 21).
Diante desta identidade de Jesus, que se começa a desvendar, logo no início do Evangelho de Marcos, e também no início da Quaresma, somos imediatamente confrontados pelo Filho de Deus que quer iniciar um tempo novo (o tempo do «Reino» de que se foi falando por aqui…) connosco. Marcos como que nos mete logo de princípio «entre a espada e a parede»: se sabes quem é este Jesus não podes ficar indiferente a Ele! «Arrependei-vos e acreditai no Evangelho»…
Moretto da Brescia, Cristo no deserto, (aprox. 1450), New York
Naquele tempo, o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto. Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás. Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-n’O.
Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a pregar o Evangelho, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
(Mc 1, 12-15)