Vou fazer mais um intervalo no que tenho estado a falar… É que esta semana, para além de ter avançado com a tese, consegui ir tirando uns bocaditos, sobretudo as noites, depois do jantar, para ir dar uns passeios: mostrar um pouco de Roma depois do pôr-do-sol à irmã Helena (amiga da universidade e companheira de viagem até Taizé) e aos familiares dela que por cá estão de visita estes dias.
E hoje, como é Domingo, a tarde foi mesmo para relaxar da cidade (passados alguns dias já não se pode mais com igrejas, museus, ruínas e todos os outros monumentos que por cá há…) e visitar um pouco do «campo» a poucos quilómetros: é sempre agradável voltar à paisagem de verde e de lagos dos «casteli romani», sobretudo quando o tempo começa a aquecer!
Na viagem para a zona de Albano, passámos junto a Tor Vergata, onde estive na noite de vigília das Jornadas Mundiais da Juventude no ano 2000. Muito longe de alguma vez pensar em vir para cá, e ainda mais longe de saber alguma coisa de italiano… mas lembro-me bem do Papa João Paulo II nos ter falado, nessa noite, dos «laboratórios da fé» precisamente a partir do texto de São Tomé, que foi lido neste Domingo.
A intuição do Papa serviu de princípio a uma grande reflexão que hoje se traduz num projecto em muitos lugares: procurar criar espaços onde seja possível «experimentar» a fé… Como Tomé, penso que um pouco todos nós, que vivemos a fé sempre como uma busca, com «99% de dúvida e 1% de esperança» (de que falava o Shusaku Endo, um autor cristão japonês, ao definir a fé), precisamos destes «lugares» onde o inacessível se torne «palpável», onde se «experimenta» dizer aquilo para o qual sempre falham as palavras, onde se entra numa relação que se pode «medir» com essa medida que é feita de paz e alegria, como fala o evangelho de hoje, onde de vive numa comunidade que torna real aquilo que é a utopia cristã…
As dúvidas, como as de Tomé, não são só legítimas, como o lugar da busca e caminho para o encontro. O que sugere o texto, é que é na comunidade reunida que se pode ver, tocar, sentir e ouvir Cristo Ressuscitado… Sem dúvida um desafio: para as comunidades, para o serem de facto; para cada um, para ousar estar presente onde é possível o encontro…
Caravaggio, São Tomé
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa, e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.
(Jo 20, 19-31)